Sonetos sobre Jogo de Mário Quintana

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Sonetos de jogo de Mário Quintana. Leia este e outros sonetos de Mário Quintana em Poetris.

A Rua Dos Cataventos – I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta Ă© cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

NĂŁo sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas…

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever atĂ© me esqueço…
Pra que pensar? TambĂ©m sou da paisagem…

Vago, solĂşvel no ar, fico sonhando…
E me transmuto… iriso-me… estremeço…
Nos leves dedos que me vĂŁo pintando!

Os Parceiros

Sonhar Ă© acordar-se para dentro:
de sĂşbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste…
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quĂŞ?Ganhar o quĂŞ? De quem?
O meu parceiro…eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte Ă© seu disfarce…
Como também disfarce é a minha vida!