Como Quando Do Mar Tempestuoso
Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro, lasso e trabalhado,
d’um naufrágio cruel já salvo a nado,
só ouvir falar nele o faz medroso;e jura que em que veja bonançoso
o violento mar, e sossegado
não entre nele mais, mas vai, forçado
pelo muito interesse cobiçoso;Assi, Senhora eu, que da tormenta,
de vossa vista fujo, por salvar me,
jurando de nĂŁo mais em outra ver me;minh’alma que de vĂłs nunca se ausenta,
dá me por preço ver vos, faz tornar me
donde fugi tĂŁo perto de perder me.
Sonetos sobre Juras de LuĂs de Camões
4 resultadosJurando de nĂŁo Mais em Outra Ver-me
Como quando do mar tempestuoso
O marinheiro todo trabalhado,
De um naufrágio cruel saindo a nado,
Só de ouvir falar nele está medroso;Firme jura que o vê-lo bonançoso
Do seu lar o nĂŁo tire sossegado;
Mas esquecido já do horror passado,
Dele a fiar se torna cobiçoso;Assi, Senhora, eu que da tormenta
De vossa vista fujo, por salvar-me,
Jurando de nĂŁo mais em outra ver-me;Com a alma que de vĂłs nunca se ausenta,
Me torno, por cobiça de ganhar-me,
Onde estive tĂŁo perto de perder-me.
Lágrimas de Honesta Piedade e Imortal Contentamento
Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faĂscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas a alva neve.A vista, que em si mesma nĂŁo se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve.Jura Amor, que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoidece, se cuida que Ă© verdade.Olhai como Amor gera, em um momento,
De lágrimas de honesta piedade
Lágrimas de imortal contentamento.
Bem Sei, Amor, que Ă© Certo o que Receio
Bem sei, Amor, que Ă© certo o que receio;
Mas tu, porque com isso mais te apuras,
De manhoso, mo negas, e mo juras
Nesse teu arco de ouro; e eu te creio.A mĂŁo tenho metida no meu seio,
E nĂŁo vejo os meus danos Ă s escuras;
Porém porfias tanto e me asseguras,
Que me digo que minto, e que me enleio.Nem somente consinto neste engano,
Mas inda to agradeço, e a mim me nego
Tudo o que vejo e sinto de meu dano.Oh poderoso mal a que me entrego!
Que no meio do justo desengano
Me possa inda cegar um moço cego?