Em SĂłrdida Masmorra Aferrolhado
Em sĂłrdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por lĂnguas impostoras criminado:Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mĂŁo roto, e cuspido,
Sem ver um sĂł mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado:O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mĂŁo do algoz cruento:Inda assim, nĂŁo maldiz a inĂqua sorte
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.
Sonetos sobre LĂngua de Manuel Maria Barbosa du Bocage
3 resultadosDos Tórrido Sertões, Pejados De Oiro
Dos tórridos sertões, pejados de oiro,
Saiu um sabichĂŁo de escassa fama,
Que os livros preza, os cartapácios ama,
Que das lĂnguas repartem o tesoiro.Arranha o persiano, arranha o moiro,
Sabe que Deus em turco Allah se chama;
Que no grego alfabeto o G Ă© gama,
Que taurus em latim quer dizer toiro.Para papaguear saiu do mato:
Abocanha talentos, que nĂŁo goza;
É mono, e prega unhadas como gato.É nada em verso, quase nada em prosa:
NĂŁo conheces, leitor, neste retrato
O guapo charlatão Tomé Barbosa?
Soneto Ditado Na Agonia
Já Bocage nĂŁo sou!… Ă€ cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos CĂ©us ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!… Tivera algum merecimento
Se um raio da razĂŁo seguisse pura.Eu me arrependo; a lĂngua quasi fria
Brade em alto pregĂŁo Ă mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:Outro Aretino fui… a santidade
Manchei!… Oh! Se me creste, gente Ămpia,
Rasga meus versos, crĂŞ na eternidade!.