Importuna RazĂŁo, NĂŁo Me Persigas;
Importuna RazĂŁo, nĂŁo me persigas;
Cesse a rĂspida voz que em vĂŁo murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas:Se acusas os mortais, e os nĂŁo abrigas,
Se ( conhecendo o mal ) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vĂtima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo:Queres que fuja de MarĂlia bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
Sonetos sobre Loucura de Manuel Maria Barbosa du Bocage
3 resultadosO poeta asseteado por amor
Ă“ CĂ©us! Que sinto n’alma! Que tormento!
Que repentino frenesi me anseia!
Que veneno a ferver de veia em veia
Me gasta a vida, me desfaz o alento!Tal era, doce amada, o meu lamento;
Eis que esse deus, que em prantos se recreia,
Me diz: “A que se expõe quem nĂŁo receia
Contemplar Ursulina um sĂł momento!“Insano! Eu bem te vi dentre a luz pura
De seus olhos travessos, e cum tiro
Puni tua sacrĂlega loucura:“De morte, por piedade hoje te firo;
Vai pois, vai merecer na sepultura
Ă€ tua linda ingrata algum suspiro.”
Cede a Filosofia Ă Natureza
Tenho assaz conservado o rosto enxuto
Contra as iras do Fado omnipotente;
Assaz contigo, Ăł SĂłcrates, na mente,
À dor neguei das queixas o tributo.Sinto engelhar-se da constância o fruto,
Cai no meu coração nova semente;
Já me não vale um ânimo inocente;
Gritos da Natureza, eu vos escuto!Jazer mudo entre as garras da Amargura,
D’alma estĂłica aspirar Ă vĂŁ grandeza,
Quando orgulho nĂŁo for, será loucura.No espĂrito maior sempre há fraqueza,
E, abafada no horror da desventura,
Cede a Filosofia Ă Natureza.