Sonetos sobre Lua

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Sonetos de lua escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

II

Celeste… É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste…
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste… E como tu Ă©s do cĂ©u nĂŁo amas:
Forma imortal que o espĂ­rito reveste
De luz, nĂŁo temes sol, nĂŁo temes chamas,
Porque Ă©s sol, porque Ă©s luar, sendo celeste.

IncoercĂ­vel como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio Ă  noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hĂłstia sagrada.

De Joelhos

“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!

Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer …
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, sĂł para te ver …

Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixĂŁo fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!

ApĂłs O Noivado

Em flácido divã ela resvala
Na alcova — bem feliz, alegremente,
E o fresco penteador alvinitente,
De nardo e benjoim o aroma exala.

E o noivo todo amor, assim lhe fala,
Por entre vibrações do olhar ardente:
Pertences-me afinal, pomba dormente
Parece que a razĂŁo de gozo, estala.

Mas eis — corre-se entĂŁo nĂ­vea cortina:
E a plácida, a ideal, a branca lua
Derrama nos vergĂ©is a luz divina…

Depois… Oh! Musa audaz, ousada, e nua,
Não rompas esse véu de gaze fina
Que encerra um madrigal — Vamos… recua!…

Luar

Ao longo das lourĂ­ssimas searas
Caiu a noite taciturna e fria…
Cessou no espaço a límpida harmonia
Das infinitas perspectivas claras.

As estrelas no céu, puras e raras,
Como um cristal que nĂ­tido radia,
Abrem da noite na mudez sombria
O cofre ideal de pedrarias caras.

Mas uma luz aos poucos vai subindo
Como do largo mar ao firmamento — abrindo
Largo clarĂŁo em flocos d’escomilha.

Vai subindo, subindo o firmamento!
E branca e doce e nĂ­vea, lento e lento,
A lua cheia pelos campos brilha…

Sinfonias Do Ocaso

Musselinosas como brumas diurnas
Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridĂŁo das furnas.

Ah! por estes sinfĂ´nicos ocasos
A terra exala aromas de áureos vasos,
Incensos de turĂ­bulos divinos.

Os plenilĂşnios mĂłrbidos vaporam…
E como que no Azul plangem e choram
CĂ­taras, harpas, bandolins, violinos…

Salomé

InsĂłnia rĂ´xa. A luz a virgular-se em mĂŞdo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua…
Ela dança, ela range. A carne, alcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segrĂŞdo…

Tudo Ă© capricho ao seu redĂłr, em sombras fátuas…
O arĂ´ma endoideceu, upou-se em cĂ´r, quebrou…
Tenho frio… Alabastro!… A minh’Alma parou…
E o seu corpo resvala a projectar estátuas…

Ela chama-me em Iris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecĂ´a-me em quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer morrer-me:

Mordoura-se a chorar–ha sexos no seu pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na bĂ´ca imperial que humanisou um Santo…

Noite

Há na expressão do céu um mágico esplendor
e em ĂŞxtase sensual, a terra está vencida…
– deixa enlaçar-te toda… A sombra nos convida,
e uma noite como esta Ă© feita para o amor…

Assim… – Fica em meus braços, trĂŞmula e esquecida,
e dá-me do teu corpo esse estranho calor,
– ao pĂłlen que dá vida, em fruto faz-se a flor,
e o teu corpo Ă© uma flor que nĂŁo conhece a vida…

Há sussurros pelo ar… Há sombras nos caminhos…
E à indiscrição da Lua, em seu alto mirante,
encolhem-se aos casais, os pássaros nos ninhos…

Astros fogem no cĂ©u… ninguĂ©m mais pode vĂŞ-los…
procuram, para amar, a noite mais distante,
e eu, para amar, procuro a noite em teus cabelos!…

Luz Dolorosa

Fulgem da Luz os Viáticos serenos,
Brancas Extrema-Unções dos hostiários:
As Estrelas dos límpidos Sacrários
A nĂ­vea Lua sobre a paz dos fenos.

Há prelúdios e cânticos e trenos
Tristes, nos ares ermos, solitários…
E nos brilhos da Luz, vagos e vários,
Há dor, há luto, há convulsões, venenos…

Estranhas sensações maravilhosas
Percorrem pelos cálices das rosas,
Sensações sepulcrais de larvas frias…

Como que ocultas áspides flexíveis
Mordem da Luz os germens invisĂ­veis
Com o tĂłxico das cĂłleras sombrias…

PlenilĂşnio

Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvíssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
Mística essência desse alampadário.

E a lua é como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.

Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.

Ah! como a branca e merencĂłrea lua,
TambĂ©m envolta num sudário – a Dor,
Minh’alma triste pelos cĂ©us flutua!

A Rua Dos Cataventos – XII – Para Erico Verissimo

O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado…

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo… CĂ©u Ă© que lhes falta
Pra suportarem a existĂŞncia rude!

E eles sonham, imĂłveis, deslumbrados,
Que sĂŁo dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqĂĽila de um açude…