Sonetos sobre Luar

113 resultados
Sonetos de luar escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Noite De Saudade

A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra , que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que Ă© cheia de tortura…
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual Ă  que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem…
Talvez de ti, Ăł Noite!…Ou de ninguĂ©m!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que eu tenho!!

Musica Misteriosa

Tenda de Estrelas nĂ­veas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadários,
As harmonias dos Estradivarius
Erram da Lua nos clarões dormentes…

Pelos raios fluĂ­dicos, diluentes
Dos Astros, pelos trêmulos velários,
Cantam Sonhos de místicos templários,
De ermitões e de ascetas reverentes…

Cânticos vagos, infinitos, aéreos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar fluindo…

E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na láctea claridade que flutua,
A surdina das lágrimas subindo…

A Rua Dos Cataventos – XXXV

Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sĂłs,
Deixa-me em paz na minha quieta rua…
Nada mais quero com nenhum de vĂłs!

Quero Ă© ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vĂŁo…
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da ExpressĂŁo!…

Eu lavarei comigo as madrugadas,
PĂ´r de sĂłis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas…

E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios da vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto…

VĂłs Outros! que Dizeis que o Amor Ă© um SuplĂ­cio

VĂłs outros! que dizeis que o Amor Ă© um suplĂ­cio,
Que a flor da Decepção se abre em todo o Prazer,
Que aconselhais Ă  Alma o mosteiro, e o cilĂ­cio,
Pois nada pode consolar-nos de viver:

Ponde os olhos em mim, neste celeste Amor
Que me vai desdobrando e alumiando o caminho,
Mesmo quando o alto Céu, sem frescura e sem cor,
Tem as engelhas de algum velho pergaminho…

Vede como eu quero viver, por merecĂŞ-la,
Eu que sou pecador, a ela longĂ­nqua Estrela!
No esforço de ser bom, branco como um altar:

De modo que a minha Alma, enfim, fique tĂŁo crente,
Que se possa casar Ă  sua estreitamente,
Como um floco de neve a um raio de luar!

Encantamento

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar
A tua dĂ´ce e angelica Figura,
Esquecido, embebido num luar,
Num enlêvo perfeito e graça pura!

E á força de sorrir, de me encantar,
Deante de ti, mimosa Creatura,
Suavemente sentia-me apagar…
E eu era sombra apenas e ternura.

Que inocencia! que aurora! que alegria!
Tua figura de Anjo radiava!
Sob os teus pés a terra florescia,

E até meu proprio espirito cantava!
Nessas horas divinas, quem diria
A sorte que já Deus te destinava!

Aspiração

Deve ser bom morrer numa noite como essa!
Beber a luz do luar e sentir-lhe a embriaguez.
Quando se sofre assim, a morte Ă© uma promessa…
Vou tentar ser feliz pela Ăşltima vez.

Foi diferente a minha vida. Andou depressa.
O que fiz, o destino inclemente desfez.
Quando o amor se dilui e a saudade começa,
Talvez a morte seja um consolo… talvez.

Serei no cĂ©u pastor de estrelas… Entre os dedos
Prenderei um punhado delas, uma a uma,
E ao som da avena que um pastor-poeta me deu,

A lua se desmanchará sobre os rochedos,
Para que eu veja nela, em seu vulto de espuma,
A mulher que foi sombra e … desapareceu.

Princesa Desalento

Minh’alma Ă© a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É revoltada, trágica, sombria,
Como galopes infernais de vento!

É frágil como o sonho dum momento,
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria!
Minh’alma Ă© a Princesa Desalento…

Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavĂ­ssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve a minh’alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz Ă  tua porta…

Amo!

Amo a terra! Amo o sol! Amo o céu! Amo o mar!
Amo a vida! Amo a luz! Amo as árvores! Amo
a poesia que escrevo e entusiasta declamo
aos que sentem como eu a alegria de amar!

Amo a noite! Amo a antiga palidez do luar!
A flor presa aos cabelos soltos de algum ramo!
Uma folha que cai! Um perfume no ar
onde um desejo extinto sem querer inflamo!

Amo os rios! E a estranha solidĂŁo em festa,
dessa alma que possuo multiforme e inquieta
como a alma multiforme e inquieta da floresta!

Amo a cor que há nos sons! Amo os sons que há na cor!
E em mim mesmo – amo a glĂłria de sentir-me um Poeta
e amar imensamente o meu imenso amor!.

O Cego Do Harmonium

Esse cego do harmonium me atormenta
E atormentando me seduz, fascina.
A minh’alma para ele vai sedenta
Por falar com a sua alma peregrina.

O seu cantar nostálgico adormenta
Como um luar de mĂłrbida neblina.
O harmonium geme certa queixa lenta,
Certa esquisita e lânguida surdina.

Os seus olhos parecem dois desejos
Mortos em flor, dois luminosos beijos
Fanados, apagados, esquecidos…

Ah! eu não sei o sentimento vário
Que prende-me a esse cego solitário,
De olhos aflitos como vĂŁos gemidos!

No Seu Tumulo

Sobre o seu frio berço sepulcral,
Meu espirito resa ajoelhado;
E sente-se perfeito e virginal
Na sua dĂ´r divina concentrado.

CaĂ­, gotas de orvalho matinal!
Astros, caí do céu todo estrelado!
Sêcas flôres do zéfiro outomnal,
Vinde enfeitar-lhe o tumulo sagrado!

Ă“ luar da meia noite, encantamento
De sombra, vem cobri-lo! Ă“ doido Vento,
Dorme com ele, em paz religiosa…

Sobre ele, Ăł terra, sĂŞ brandura apenas;
Faze-te luz, toma o calor das pennas;
SĂŞ MĂŁe perfeita, bĂ´a e carinhosa.

Irradiações

Às crianças

Qual da amplidão fantástica e serena
Ă€ luz vermelha e rĂştila da aurora
Cai, gota a gota, o orvalho que avigora
A imaculada e cândida açucena.

Como na cruz, da triste Madalena
Aos pés de Cristo, a lágrima sonora
Caia, rolou, qual bálsamo que irrora
A negra mágoa, a indefinida pena…

Caia por vós, esplêndidas crianças
Bando feliz de castas esperanças,
Sonhos da estrela no infinito imersas;

Caia por vĂłs, as mĂşsicas formosas,
Como um dilĂşvio matinal de rosas,
Todo o luar benéfico dos versos!

Decadentes

Richepin, Rollinat! gritos sangrentos
Da carne alvoroçada de desejos,
Mosto de risos, lágrimas e beijos,
Estertores de abutres famulentos.

Desesperado frĂŞmito dos ventos,
De harpas, sutis, fantásticos harpejos,
Clarins de guerra, e cânticos e adejos
De aves — todos os vivos elementos.

Tudo flameja e nas estrofes canta,
Estruge, zune, em borbotões levanta
Noites, luares, fulgurantes dias.

Mas nessa ideal temperatura forte
Tudo isso Ă© triste como a flor da morte
Que brota dentro das caveiras frias…

Boca

III

Boca viçosa, de perfume a lírio,
Da lĂ­mpida frescura da nevada,
Boca de pompa grega, purpureada,
Da majestade de um damasco assĂ­rio.

Boca para deleites e delĂ­rio
Da volĂşpia carnal e alucinada,
Boca de Arcanjo, tentadora e arqueada,
Tentando Arcanjos na amplidĂŁo do EmpĂ­rio,

Boca de Ofélia morta sobre o lago,
Dentre a auréola de luz do sonho vago
E os faunos leves do luar inquietos…

Estranha boca virginal, cheirosa,
Boca de mirra e incensos, milagrosa
Nos filtros e nos tĂłxicos secretos…

Lésbia

CrĂłton selvagem, tinhorĂŁo lascivo,
Planta mortal, carnĂ­vora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosĂŁo de um sangue vivo.

Nesse lábio mordente e convulsivo,
Ri, ri risadas de expressĂŁo violenta
O Amor, trágico e triste, e passe, lenta,
A morte, o espasmo gĂ©lido, aflitivo…

Lésbia nervosa, fascinante e doente,
Cruel e demonĂ­aca serpente
Das flamejantes atracões do gozo.

Dos teus seios acĂ­dulos, amargos,
Fluem capros aromas e os letargos,
Os Ăłpios de um luar tuberculoso…

Alma Que Chora

A JoĂŁo Saldanha

Em vão do Cristo aos olhos dulçurosos
Onde há o sol do bem e da verdade,
Cheios da luz eterna de saudade,
Como dois mansos corações piedosos,

Em vĂŁo do Cristo os olhos lacrimosos
E aquela doce e pura suavidade
Do seu semblante, casto, de bondade,
Cor do luar dos sonhos venturosos,

Servem de exemplo a dor escruciante
Que te apunhala e fere a cada instante,
A punhaladas rĂ­spidas, austeras!

Viste partir a tua irmĂŁ, se, viste,
Como num céu enévoado e triste
O bando azul das fĂşlgidas quimeras…

Horas Rubras

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos rubros e ardentes,
De noites de volĂşpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas…

Oiço olaias em flor Ă s gargalhadas…
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
SĂŁo pedaços de prata p’las estradas…

Os meus lábios sĂŁo brancos como lagos…
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras…

Sou chama e neve e branca e mist’riosa…
E sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ă“ meu Poeta, o beijo que procuras!

Anseios

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! NĂŁo amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
NĂŁo valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisĂŁo!…
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
NĂŁo te deslumbre o brilho do luar!

NĂŁo estendas tuas asas para o longe…
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!…

Eternidade Retrospectiva

Eu me recordo de já ter vivido,
Mudo e sĂł, por olĂ­mpicas Esferas,
onde era tudo velhas primaveras
E tudo um vago aroma indefinido.

Fundas regiões do Pranto e do Gemido
Onde as almas mais graves, mais austeras
Erravam como trĂŞmulas quimeras
Num sentimento estranho e comovido.

As estrelas, longĂ­nquas e veladas,
Recordavam violáceas madrugadas,
Um clarĂŁo muito leve de saudade.

Eu me recordo d’imaginativos
Luares liriais, contemplativos
Por onde eu já vivi na Eternidade!

Pobre De Cristo

A José Emídio Amaro

Ă“ minha terra na planĂ­cie rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viste o mar,
Onde tenho o meu pĂŁo e a minha casa.

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folhas…a dormitar…
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra moirisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmĂŁo nasceu
Aonde a mĂŁe que eu tive e que morreu
Foi moça e loira, amou e foi amada!

Truz…Truz…Truz… — Eu nĂŁo tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, Ă© quase noite,
Terra, quero dormir, dá-me pousada!…

II

Celeste… É assim, divina, que te chamas.
Belo nome tu tens, Dona Celeste…
Que outro terias entre humanas damas,
Tu que embora na terra do céu vieste?

Celeste… E como tu Ă©s do cĂ©u nĂŁo amas:
Forma imortal que o espĂ­rito reveste
De luz, nĂŁo temes sol, nĂŁo temes chamas,
Porque és sol, porque és luar, sendo celeste.

IncoercĂ­vel como a melancolia,
Andas em tudo: o sol no poente vasto
Pede-te a mágoa do findar do dia.

E a lua, em meio Ă  noite constelada,
Pede-te o luar indefinido e casto
Da tua palidez de hĂłstia sagrada.