Soneto XXV
O nosso ninho, a nossa casa, aquela
nossa despretensiosa água-furtada,
tinha sempre gerânios na sacada
e cortinas de tule na janela.Dentro, rendas, cristais, flores… Em cada
canto, a mĂŁo da mulher amada e bela
punha um riso de graça. Tagarela,
teu cenário cantava Ă minha entrada.Cantava… E eu te entrevia, Ă luz incerta,
braços cruzados, muito branca, ao fundo,
no quadro claro da janela aberta.Vias-me. E entĂŁo, num sĂşbito tremor,
fechavas a janela para o mundo
e me abrias os braços para o amor!
Sonetos sobre Luz de Guilherme de Almeida
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Essa Que Eu Hei De Amar…
Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que Ă© o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.E quando ela passar, tudo o que eu nĂŁo sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,
mas ias tĂŁo perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”