Sonetos sobre Madrugada de Florbela Espanca

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Sonetos de madrugada de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Para QuĂȘ?!

Tudo Ă© vaidade neste mundo vĂŁo…
Tudo Ă© tristeza, tudo Ă© pĂł, Ă© nada!
E mal desponta em nĂłs a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!

Até o amor nos mente, essa canção
Que o nosso peito ri Ă  gargalhada,
Flor que Ă© nascida e logo desfolhada,
PĂ©talas que se pisam pelo chĂŁo!…

Beijos de amor! Pra quĂȘ?! … Tristes vaidades!
Sonhos que logo sĂŁo realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

SĂł neles acredita quem Ă© louca!
Beijos de amor que vĂŁo de boca em boca,
Como pobres que vĂŁo de porta em porta!…

Frieza

Os teus olhos sĂŁo frios como espadas,
E claros como os trĂĄgicos punhais;
TĂȘm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lĂąminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
FantĂĄsticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirås a soluçar:
“Ah! Quem me dera, IrmĂŁ, amar assim!…”