Estátua
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, de frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatĂŞ-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessĂŁo! Para bebĂŞ-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.E o meu Ăłsculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado…Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um tĂşmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
Sonetos sobre Mármore de Camilo Pessanha
2 resultados Sonetos de mármore de Camilo Pessanha. Leia este e outros sonetos de Camilo Pessanha em Poetris.
Madalena
…e lhe regou de lágrimas os pĂ©s e os enxugou com os cabelos da sua cabeça. Evangelho de S. Lucas.
Ă“ Madalena, Ăł cabelos de rastos,
LĂrio poluĂdo, branca flor inĂştil…
Meu coração, velha moeda fútil,
E sem relevo, os caracteres gastos,De resignar-se torpemente dĂşctil…
Desespero, nudez de seios castos,
Quem também fosse, ó cabelos de rastos,
Ensangüentado, enxovalhado, inútil,Dentro do peito, abominável cômico!
Morrer tranqĂĽilo, – o fastio da cama…
Ă“ redenção do mármore anatĂ´mico,Amargura, nudez de seios castos!…
Sangrar, poluir-se, ir de rastos na lama,
Ă“ Madalena, Ăł cabelos de rastos!