Lamento do Poeta Objectivo
Anda-me o amor tomando a prĂłpria vida,
como se, amando, eu existisse mais.
E leva-me o Destino em voz traĂda,
como se houvera encontros desiguais.A multidĂŁo me cerca, e, renascida,
já dela terei fome de sinais.
E, mal a noite se demora ardida,
o medo e a solidĂŁo me esfriam taisas cinzas desse amor que sacrifico.
Não é futura a só miséria. A queixa
também não é: e apenas aconteceno vácuo imenso que este amor me deixa,
quando maior, quando de si mais rico,
se dá de mundo em mundo, e lá me esquece.
Sonetos sobre Miséria de Jorge de Sena
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