Sonetos sobre Morte de Fernando Pessoa

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Sonetos de morte de Fernando Pessoa. Leia este e outros sonetos de Fernando Pessoa em Poetris.

Entre o Bater Rasgado dos PendÔes

Entre o bater rasgado dos pendÔes
E o cessar dos clarins na tarde alheia,
A derrota ficou: como uma cheia
Do mal cobriu os vagos batalhÔes.

Foi em vão que o Rei louco os seus varÔes
Trouxe ao prolixo prélio, sem idéia.
Água que mão infiel verteu na areia —
Tudo morreu, sem rastro e sem razÔes.

A noite cobre o campo, que o Destino
Com a morte tornou abandonado.
Cessou, com cessar tudo, o desatino.

Só no luar que nasce os pendÔes rotos
Mostram no absurdo campo desolado
Uma derrota herĂĄldica de ignotos.

Soneto JĂĄ Antigo

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hĂĄs de
dizer aos meus amigos aĂ­ de Londres,
embora nĂŁo o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. IrĂĄs de

Londres p’ra Iorque, onde nasceste (dizes…
que eu nada que tu digas acredito),
contar Ă quele pobre rapazito
que me deu tantas horas tĂŁo felizes,

Embora nĂŁo o saibas, que morri…
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importarĂĄ… Depois vai dar

a notĂ­cia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande…
Raios partam a vida e quem lĂĄ ande!

Ah, Mas Aqui, Onde Irreais Erramos

Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mĂŁos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque Ă© ausĂȘncia e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?

Calmo na falsa morte a nĂłs exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Roseacruz conhece e cala.