Soneto Da Mulher Ao Sol
Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz
A flor dos lĂĄbios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pĂłlen da luz.Uma linda mulher com os seios em repouso
Nua e quente de sol – eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pelo Ășmido, e um sorriso
Ă flor dos lĂĄbios entreabertos para o gozo.Uma mulher ao sol sobre quem me debruce
Em quem beba e a quem morda, com quem me lamente
E que ao se submeter se enfureça e soluceE tente me expelir, e ao me sentir ausente
Me busque novamente – e se deixes a dormir
Quando, pacificado, eu tiver de partir…
Sonetos sobre Mulheres de Vinicius de Moraes
7 resultadosSoneto Do Corifeu
SĂŁo demais os perigos desta vida
Para quem tem paixĂŁo, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma mĂșsica qualquer
AĂ entĂŁo Ă© preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.Deve andar perto uma mulher que Ă© feita
De mĂșsica, luar e sentimento
E que a vida nĂŁo quer, de tĂŁo perfeita.Uma mulher que Ă© como a prĂłpria Lua:
TĂŁo linda que sĂł espalha sofrimento
TĂŁo cheia de pudor que vive nua.
Quatro Sonetos De Meditação – II
Uma mulher me ama. Se eu me fosse
Talvez ela sentisse o desalento
Da ĂĄrvore jovem que nĂŁo ouve o vento
Inconstante e fiel, tardio e doceNa sua tarde em flor. Uma mulher
Me ama como a chama ama o silĂȘncio
E o seu amor vitorioso vence
O desejo da morte que me quer.Uma mulher me ama. Quando o escuro
Do crepĂșsculo mĂłrbido e maduro
Me leva a face ao gĂȘnio dos espelhosE eu, moço, busco em vĂŁo meus olhos velhos
Vindos de ver a morte em mim divina:
Uma mulher me ama e me ilumina.
Soneto Na Morte De José Arthur Da Frota Moreira
Cantamos ao nascer o mesmo canto
De alegria, de sĂșplica e de horror
E a mulher nos surgiu no mesmo encanto
Na mesma dĂșvida e na mesma dor.Criamos toda a sedução, e tanto
Que de nĂłs seduzido, o sedutor
Morreu nas mesmas lĂĄgrimas de amor
Ao milagre maior do amor em pranto.Fui um pouco teu cĂŁo e teu mendigo
E tu, como eu, mendigo de outro pĂŁo
Sempre guardaste o pĂŁo do teu amigoMeu misterioso irmĂŁo, sigo contigo
HĂĄ tanto, tanto tempo, mĂŁo na mĂŁo…
Ouve como chora o coração.
Soneto Da Lua
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mĂŁos languidas, loucas, e sem fim
Quem Ă©s, quem Ă©s tu, nĂŁo eu, e estĂĄs em mim
Impuro, como o bem que estĂĄ nos puros ?Que paixĂŁo fez-te os lĂĄbios tĂŁo maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tĂŁo boa para o ruĂm
E tĂŁo fatal para os meus versos duros?Fugaz, com que direito tens-me pressa
A alma, que por ti soluça nua
E nĂŁo Ă©s Tatiana e nem Teresa:E Ă©s tĂŁo pouco
a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética e indefesa
Soneto de Devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lĂșbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pĂĄlidos receios
A Ășnica entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.Essa mulher Ă© um mundo! â uma cadela
Talvez… â mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tĂŁo bela!
Soneto Da Mulher InĂștil
De tanta graça e de leveza tanta
Que quando sobre mim, como a teu jeito
Eu tĂŁo de leve sinto-te no peito
Que o meu prĂłprio suspiro te levanta.To contra quem me esbato liquefeito
Rocha branca! brancura que me espanta
Brancos seios azuis, nĂvea garganta
Branco pĂĄssaro fiel com que me deito.Mulher inĂștil, quando nas noturnas
CelebraçÔes, nĂĄufrago em teus delĂrios
Tenho-te toda, branca, envolta em brumasSĂŁo teus seios tĂŁo tristes como urnas
SĂŁo teus braços tĂŁo finos como lĂrios
Ă teu corpo tĂŁo leve como plumas.