Sonetos sobre Mulheres de Vinicius de Moraes

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Sonetos de mulheres de Vinicius de Moraes. Leia este e outros sonetos de Vinicius de Moraes em Poetris.

Soneto Da Mulher Ao Sol

Uma mulher ao sol – eis todo o meu desejo
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz
A flor dos lĂĄbios entreaberta para o beijo
A pele a fulgurar todo o pĂłlen da luz.

Uma linda mulher com os seios em repouso
Nua e quente de sol – eis tudo o que eu preciso
O ventre terso, o pelo Ășmido, e um sorriso
À flor dos lábios entreabertos para o gozo.

Uma mulher ao sol sobre quem me debruce
Em quem beba e a quem morda, com quem me lamente
E que ao se submeter se enfureça e soluce

E tente me expelir, e ao me sentir ausente
Me busque novamente – e se deixes a dormir
Quando, pacificado, eu tiver de partir…

Soneto Do Corifeu

SĂŁo demais os perigos desta vida
Para quem tem paixĂŁo, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma mĂșsica qualquer
AĂ­ entĂŁo Ă© preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que Ă© feita
De mĂșsica, luar e sentimento
E que a vida nĂŁo quer, de tĂŁo perfeita.

Uma mulher que Ă© como a prĂłpria Lua:
TĂŁo linda que sĂł espalha sofrimento
TĂŁo cheia de pudor que vive nua.

Quatro Sonetos De Meditação – II

Uma mulher me ama. Se eu me fosse
Talvez ela sentisse o desalento
Da ĂĄrvore jovem que nĂŁo ouve o vento
Inconstante e fiel, tardio e doce

Na sua tarde em flor. Uma mulher
Me ama como a chama ama o silĂȘncio
E o seu amor vitorioso vence
O desejo da morte que me quer.

Uma mulher me ama. Quando o escuro
Do crepĂșsculo mĂłrbido e maduro
Me leva a face ao gĂȘnio dos espelhos

E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos
Vindos de ver a morte em mim divina:
Uma mulher me ama e me ilumina.

Soneto Na Morte De José Arthur Da Frota Moreira

Cantamos ao nascer o mesmo canto
De alegria, de sĂșplica e de horror
E a mulher nos surgiu no mesmo encanto
Na mesma dĂșvida e na mesma dor.

Criamos toda a sedução, e tanto
Que de nĂłs seduzido, o sedutor
Morreu nas mesmas lĂĄgrimas de amor
Ao milagre maior do amor em pranto.

Fui um pouco teu cĂŁo e teu mendigo
E tu, como eu, mendigo de outro pĂŁo
Sempre guardaste o pĂŁo do teu amigo

Meu misterioso irmĂŁo, sigo contigo
HĂĄ tanto, tanto tempo, mĂŁo na mĂŁo…
Ouve como chora o coração.

Soneto Da Lua

Por que tens, por que tens olhos escuros
E mĂŁos languidas, loucas, e sem fim
Quem Ă©s, quem Ă©s tu, nĂŁo eu, e estĂĄs em mim
Impuro, como o bem que estĂĄ nos puros ?

Que paixĂŁo fez-te os lĂĄbios tĂŁo maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tĂŁo boa para o ruĂ­m
E tĂŁo fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me pressa
A alma, que por ti soluça nua
E nĂŁo Ă©s Tatiana e nem Teresa:

E Ă©s tĂŁo pouco
a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética e indefesa

Soneto de Devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lĂșbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pĂĄlidos receios
A Ășnica entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher Ă© um mundo! — uma cadela
Talvez… — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tĂŁo bela!

Soneto Da Mulher InĂștil

De tanta graça e de leveza tanta
Que quando sobre mim, como a teu jeito
Eu tĂŁo de leve sinto-te no peito
Que o meu prĂłprio suspiro te levanta.

To contra quem me esbato liquefeito
Rocha branca! brancura que me espanta
Brancos seios azuis, nĂ­vea garganta
Branco pĂĄssaro fiel com que me deito.

Mulher inĂștil, quando nas noturnas
CelebraçÔes, nåufrago em teus delírios
Tenho-te toda, branca, envolta em brumas

SĂŁo teus seios tĂŁo tristes como urnas
São teus braços tão finos como lírios
É teu corpo tão leve como plumas.