Bendita
Bendita sejas, minha mĂŁe, bendito
Seja o teu seio, imaculado e santo,
Onde derrama as gotas de seu pranto
Meu dolorido coração aflito.Ó minha mãe, ó anjo sacrossanto,
Bendito seja o teu amor, bendito!
Ouve do CĂ©u o amargurado grito
Cheio da dor de quem soluça tanto.E deixa que repouse em teus joelhos
A minha fronte, ouvindo os teus conselhos
Longe do mundo, ó sempiterna dita!Envia lá do céu no teu sorriso
A morte que levou-te ao ParaĂso…
Bendita sejas, minha mĂŁe, bendita!
Sonetos sobre Mundo de Auta de Souza
8 resultadosTudo O Que É Puro, Santo E Resplendente
Tudo o que Ă© puro, santo e resplendente,
N’este mundo cruel de desenganos,
Toda a ventura dos primeiros anos
N’um’alma que desabrocha sorridente;Tudo o que ainda vemos de potente
Na vastidĂŁo sem fim dos oceanos,
E da terra nos prantos soberanos
Trazidos pela aurora refulgente;Tudo o que desce do infinito ousado:
O sol, a brisa, o orvalho prateado,
A luz do amor, do bem, das esperanças;Tudo, afinal, que vem do Céu dourado
A despertar o coração magoado,
– Deus encerrou nos olhos das crianças!
Ă€ Alma De Minha MĂŁe
Partiu-se o fio branco e delicado
Dos sonhos de minh’alma desditosa…
E as contas do rosário assim quebrado
CaĂram como folhas de uma rosa.Debalde eu as procuro lacrimosa,
Estas doces relĂquias do Passado,
Para guardá-las na urna perfumosa,
Do meu seio no cofre imaculado.AĂ! se eu ao menos uma sĂł pudesse
D’estas contas achar que me fizesse
Lembrar um mundo de alegrias doidas…Feliz seria… Mas minh’alma atenta
Em vĂŁo procura uma continha benta:
Quando partiste m’as levaste todas!
Eterna Dor
Alma de meu amor, lĂrio celeste,
Sonho feito de um beijo e de um carinho,
Criatura gentil, pomba de arminho,
Arrulhando nas folhas de um cipreste.Ă“ minha mĂŁe! Por que no mundo agreste,
Rola formosa, abandonaste o ninho?
Se as roseiras do CĂ©u nĂŁo tĂŞm espinhos,
Quero ir contigo, Ăł lĂrio meu celeste!Ah! se soubesses como sofro, e tanto!
Leva-me Ă terra onde nĂŁo corre o pranto,
Leva-me, santa, onde a ventura existe…Aqui na vida – que tamanha mágoa! –
O prĂłprio olhar de Deus encheu-se d’água…
Ă“ minha mĂŁe, como este mundo Ă© triste!
Página Triste
Há muita dor por este mundo a fora
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mĂŁe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!Alma inocente sĂł de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
TambĂ©m, oh Dor, tu queiras, desolada,Erguer um trono, procurar guarida…
Foge do berço! Não magoes a vida
D’esta ave implume, lirial botĂŁo…Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! Procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh’alma, aqui no coração!
Noemi
Eu quisera saber em que ela pensa,
Esta mimosa e santa criatura
Quando indeciso o seu olhar procura
Alguma estrela pelo Azul suspensa;E que tristeza, indefinida, imensa,
Do seu olhar na flama, ardente e pura,
Intérmina e suave se condensa
Como as brumas no Céu em noite escura.Pobre criança! Que infinita mágoa
Punge-te o seio e te anuvia os olhos
– Benditos olhos sempre rasos d’água! –Choras… E o mundo te oferece flores…
Deixa os espinhos, lágrimas e abrolhos,
Só para mim, que só conheço dores!
Tudo Passa – I
Aquela moça graciosa e bela
Que passa sempre de vestido escuro
E traz nos lábios um sorriso puro,
Triste e formoso como os olhos dela…Diz que su’alma tĂmida e singela
Já não tem coração: que o mundo impuro
Para sempre o matou… e o seu futuro
Foi-se n’um sonho, desmaiada estrela.Ela nĂŁo sabe que o desgosto passa
Nem que do orvalho a abençoada graça
Faz reviver a planta que emurchece.Flávia! nas almas juvenis, formosas,
Berço sagrado de jasmins e rosas,
O coração nĂŁo morre: ele adormece…
Mistério
Ă€ memĂłria do pequeno Alberto.
Sei que tu’alma carinhosa e mansa
Voou, sorrindo, para o Azul celeste;
Sei que teu corpo virginal descansa
Aqui da terra n’um cantinho agreste.Tudo isto sei: mas tu nĂŁo me disseste
Se lá no Céu, na pátria da Esperança,
Ou aqui no mundo, Ă sombra do cipreste,
Deixaste o coração, loura criança!Desceu acaso com o corpo à terra
Ele tĂŁo puro e que sĂł luz encerra?
NĂŁo creio n’isso e ninguĂ©m crĂŞ de certo…Entanto, eu cismo que, num vale ameno,
Talvez o seio de um jasmim pequeno
Sirva de berço ao coração de Alberto.