Musa ImpassĂvel II
Ă Musa, cujo olhar de pedra, que nĂŁo chora,
Gela o sorriso ao lĂĄbio e as lĂĄgrimas estanca!
DĂĄ-me que eu vĂĄ contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassĂvel mora.Leva-me longe, Ăł Musa impassĂvel e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O ĂĄureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.Transporta-me de vez, numa ascensĂŁo ardente,
Ă deliciosa paz dos OlĂmpicos-Lares
Onde os deuses pagĂŁos vivem eternamente,E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os HerĂłis do grande mundo antigo.
Sonetos sobre Musas de Francisca JĂșlia da Silva
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Musa ImpassĂvel I
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cĂąndido semblante!
Diante de um JĂł, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.Em teus olhos nĂŁo quero a lĂĄgrima; nĂŁo quero
Em tua boca o suave e idĂlico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.DĂĄ-me o hemistĂquio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;Versos que lembrem, com seus bĂĄrbaros ruĂdos,
Ora o ĂĄspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mĂĄrmores partidos.