As Montanhas
I
Das nebulosas em que te emaranhas
Levanta-te, alma, e dize-me, afinal,
Qual Ă©, na natureza espiritual,
A significação dessas montanhas!Quem nĂŁo vĂȘ nas granĂticas entranhas
A subjetividade ascensional
Paralisada e estrangulada, mal
Quis erguer-se a cumĂadas tamanhas?!Ah! Nesse anelo trĂĄgico de altura
NĂŁo serĂŁo as montanhas, porventura,
Estacionadas, Ăngremes, assim,Por um abortamento de mecĂąnica,
A representação ainda inorgùnica
De tudo aquilo que parou em mim?!
Sonetos sobre Nebulosas de Augusto dos Anjos
5 resultadosA Dança Da PsiquĂȘ
A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!à então que a vaga dos instintos presos
– MĂŁe de esterilidades e cansaços –
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.Subitamente a cerebral coréa
Påra. O cosmos sintético da Idéa
Surge. EmoçÔes extraordinĂĄrias sinto…Arranco do meu crĂąnio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
Ecos D’alma
Oh! madrugada de ilusĂ”es, santĂssima,
Sombra perdida lĂĄ do meu Passado,
Vinde entornar a clĂąmide purĂssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!Longe das tristes noutes tumulares
Quem me dera viver entre quimeras,
Por entre o resplandor das Primaveras
Oh! madrugada azul dos meus sonhares;Mas quando vibrar a Ășltima balada
Da tarde e se calar a passarada
Na bruma sepulcral que o céu embaça,Quem me dera morrer então risonho,
Fitando a nebulosa do meu Sonho
E a Via-LĂĄctea da IlusĂŁo que passa!
Aurora Morta, Foge! Eu Busco A Virgem Loura
Aurora morta, foge! Eu busco a virgem loura
Que fugiu-me do peito ao teu clarĂŁo de morte
E Ela era a minha estrela, o meu Ășnico Norte,
O grande Sol de afeto – o Sol que as almas doura!Fugiu… e em si a Luz consoladora
Do amor – esse clarĂŁo eterno d’alma forte –
Astro da minha Paz, SĂrius da minha Sorte
E da Noute da vida a VĂȘnus Redentora.Agora, oh! Minha MĂĄgoa, agita as tuas asas,
Vem! Rasga deste peito as nebulosas gazas
E, num PĂĄlio auroral de Luz deslumbradora,Ascende Ă Claridade. Adeus oh! Dia escuro,
Dia do meu Passado! Irrompe, meu Futuro;
Aurora morta, foge – eu busco a virgem loura!
A Idéia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incĂłgnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegraçÔes maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida Ă s cordas do laringe,
TĂsica, tĂȘnue, mĂnima, raquĂtica …Quebra a força centrĂpeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da lĂngua paralĂtica