Homo
Nenhum de vĂłs ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece…NinguĂ©m sabe quem sou… e mais, parece
Que há dez mil anos já, neste degredo,
Me vĂŞ passar o mar, vĂŞ-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece…Sou um parto da Terra monstruoso;
Do hĂşmus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pai nem mĂŁe…Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; — talvez um filho
Bastardo de Jeová; — talvez ninguém!
Sonetos sobre Ninguém de Antero de Quental
2 resultados Sonetos de ninguém de Antero de Quental. Leia este e outros sonetos de Antero de Quental em Poetris.
Nocturno
EspĂrito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu sĂł entendes bem o meu tormento…Como um canto longĂnquo – triste e lento-
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento…A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!