Mundos Extintos
SĂŁo tĂŁo remotas as estrelas que,
apesar da vertiginosa velocidade da luz,
elas se apagam. e continuam a brilhar durante sĂ©culos.MORREM OS MUNDOS… Silenciosa e escura,
Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,
Nas luminosas solidões da altura
Erguem-se, assim, necrĂłpoles sombrias…Mas pra nĂłs, di-lo a ciĂŞncia, alĂ©m perdura
A vida, e expande as rĂştilas magias…
Pelos séculos em fora a luz fulgura
Traçando-lhes as Ăłrbitas vazias.Meus ideais! extinta claridade –
Mortos, rompeis, fantásticos e insanos
Da minh’alma a revolta imensidade…E sois ainda todos os enganos
E toda a luz, e toda a mocidade
Desta velhice trágica aos vinte anos…
Sonetos sobre Noite de Euclides da Cunha
4 resultadosUm Soneto
A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lábio trêmulo, esplêndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espádua e devorou-te o seio.Depois, delĂrio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciência, a crença
Lancei no incĂŞndio dos olhares teus…Hoje estou pronto Ă lĂvida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
Já disse ontem à noite, adeus, a Deus!
Marat
Foia a alma cruel das barricadas!…
Misto de luz e lama!… se ele ria,
As pĂşrpuras gelavam-se e rangia
Mais de um trono, se dava gargalhadas!…Fanático da luz… porĂ©m seguia
Do crime as torvas, lĂvidas pisadas.
Armava, à noite, aos corações ciladas,
Batia o despotismo à luz do dia.No seu cérebro tremente negrejavam
Os planos mais cruéis e cintilavam
As idéias mais bravas e brilhantes.Há muito que um punhal gelou-lhe o seio.
Passou… deixou na histĂłria um rastro cheio
De lágrimas e luzes ofuscantes.
A Flor Do Cárcere
Nascera ali – no limo viridente
Dos muros da prisĂŁo – como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola –
Aquela flor imaculada e olente…E ele que fĂ´ra um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvĂssima e silente!…E – ele – que sofre e para a dor existe –
Quantas vezes no peito o pranto estanca!..
Quantas vezes na veia a febre acalma,Fitando aquela flor tĂŁo pura e triste!…
– Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma…