Arrependimento
Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alĂvio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
NĂŁo vale o que te dei de encantamento.Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.Hoje, ambos Ă mercĂŞ de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que nĂŁo te esqueça.Padecemos idĂŞntico suplĂcio:
Tu – corroĂda de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifĂcio.
Sonetos sobre Noite de Olegário Mariano
4 resultadosAs Vozes Da Natureza
As vozes que nos vĂŞm da natureza
Traduzem sempre um mĂştuo sentimento.
Cantam as frondes pela voz do vento,
Pelo manancial canta a represa.Pelas estrelas canta o firmamento
Nas suas grandes noites de beleza.
Cada nota a outra nota vive presa,
É um pensamento de outro pensamento.Pelas folhas murmura a voz da estrada,
Pelos salgueiros canta a água parada
E o amigo sol, apenas se levanta,Jogando o manto de ouro ao céu deserto,
Chama as cigarras todas para perto,
Que Ă© na voz das cigarras que ele canta.
Do Meu Tempo
Quando eu era menino e tinha cheia
A alma de sonhos bons e, fugidio,
Como a abelha que voa da colmeia,
Andava a errar do canavial bravio;Quando em noites de junho o luar macio
Punha um lençol de rendas sobre a areia,
Tiritava de medo ouvindo o pio
Da coruja mais lĂşgubre da aldeia.Feliz! Bendita essa primeira idade!
Andava como quem anda sonhando
De olhos abertos, com a felicidade.Dormia tarde e enquanto eu nĂŁo dormia,
MamĂŁe rezava o padre-nosso e quando
Me mandava rezar, eu nĂŁo sabia.
Aspiração
Deve ser bom morrer numa noite como essa!
Beber a luz do luar e sentir-lhe a embriaguez.
Quando se sofre assim, a morte Ă© uma promessa…
Vou tentar ser feliz pela Ăşltima vez.Foi diferente a minha vida. Andou depressa.
O que fiz, o destino inclemente desfez.
Quando o amor se dilui e a saudade começa,
Talvez a morte seja um consolo… talvez.Serei no cĂ©u pastor de estrelas… Entre os dedos
Prenderei um punhado delas, uma a uma,
E ao som da avena que um pastor-poeta me deu,A lua se desmanchará sobre os rochedos,
Para que eu veja nela, em seu vulto de espuma,
A mulher que foi sombra e … desapareceu.