VI
Brandas ribeiras, quanto estou contente
De ver nos outra vez, se isto Ă© verdade!
Quanto me alegra ouvir a suavidade,
Com que FĂlis entoa a voz cadente!Os rebanhos, o gado, o campo, a gente,
Tudo me está causando novidade:
Oh como Ă© certo, que a cruel saudade
Faz tudo, do que foi, mui diferente!Recebei (eu vos peco) um desgraçado,
Que andou té agora por incerto giro
Correndo sempre atrás do seu cuidado:Este pranto, estes ais, com que respiro,
Podendo comover o vosso agrado,
Façam digno de vós o meu suspiro.
Sonetos sobre Novidades de Cláudio Manuel da Costa
3 resultadosLXI
Deixemo-nos, Algano, de porfia;
Que eu sei o que tu Ă©s, contra a verdade
Sempre hás de sustentar, que a divindade
Destes campos Ă© Brites, nĂŁo Maria!Ora eu te mostrarei inda algum dia,
Em que está teu engano: a novidade,
Que agora te direi, Ă©, que a cidade
Por melhor, do que todas a avalia.Há pouco, que encontrei lá junto ao monte
Dous pastores, que estavam conversando,
Quando passaram ambas para a fonte;Nem falaram em Brites: mas tomando
Para um cedro, que fica bem defronte,
O nome de Maria vĂŁo gravando.
XV
Formoso, e manso gado, que pascendo
A relva andais por entre o verde prado,
Venturoso rebanho, feliz gado, Que Ă bela
Antandra estais obedecendo;Já de Corino os ecos percebendo
A frente levantais, ouvis parado;
Ou já de Alcino ao canto levantado,
Pouco e pouco vos ides recolhendo;Eu, o mĂsero Alfeu, que em meu destino
Lamento as sem razões da desventura,
A seguir vos também hoje me inclino:Medi meu rosto: ouvi minha ternura;
Porque o aspecto, e voz de um peregrino
Sempre faz novidade na espessura.