Sonetos sobre Nuvens de Fernando Pessoa

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Sonetos de nuvens de Fernando Pessoa. Leia este e outros sonetos de Fernando Pessoa em Poetris.

Depois Que O Som Da Terra, Que É NĂŁo TĂȘ-Lo

Depois que o som da terra, que Ă© nĂŁo tĂȘ-lo,
Passou, nuvem obscura, sobre o vale
E uma brisa afastando meu cabelo
Me diz que fale, ou me diz que cale,

A nova claridade veio, e o sol
Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
Mas quem me deu sentir e a sua prole?
Quem me vendeu nas hastas da vontade?

Nada. Uma nova obliquação da luz,
Interregno factĂ­cio onde a erva esfria.
E o pensamento inĂștil se conduz

Até saber que nada vale ou pesa.
E nĂŁo sei se isto me ensimesma ou alheia,
Nem sei se Ă© alegria ou se Ă© tristeza.

HĂĄ Um PaĂ­s Imenso Mais Real

HĂĄ um paĂ­s imenso mais real
Do que a vida que o mundo mostra Ter
Mais do que a Natureza natural
À verdade tremendo de viver.

Sob um céu uno e plåcido e normal
Onde nada se mostra haver ou ser
Onde nem vento geme, nem fatal
A idéias de uma nuvem se faz crer,

Jaz – uma terra nĂŁo – nĂŁo hĂĄ um solo
Mas estranha, gelando em desconsolo
À alma que vĂȘ esse paĂ­s sem vĂ©u,

Hirtamente silente nos espaços
Uma floresta de escarnados braços
Inutilmente erguidos para o céu.