De TĂŁo Divino Acento E Voz Humana
De tĂŁo divino acento e voz humana,
de tĂŁo doces palavras peregrinas,
bem sei que minhas obras nĂŁo sĂŁo dinas,
que o rudo engenho meu me desengana.Mas de vossos escritos corre e mana
licor que vence as águas cabalinas;
e convosco do Tejo as flores finas
farĂŁo enveja Ă cĂłpia mantuana.E pois, a vĂłs de si nĂŁo sendo avaras,
as filhas de MnemĂłsine fermosa
partes dadas vos tem, ao mundo caras,a minha Musa e a vossa tĂŁo famosa,
ambas posso chamar ao mundo raras:
a vossa d’alta, a minha d’envejosa.
Sonetos sobre Obras de LuĂs de Camões
4 resultadosQue o Rudo Engenho Meu me Desengana
De tĂŁo divino acento em voz humana,
De elegâncias que são tão peregrinas,
Sei bem que minhas obras nĂŁo sĂŁo dignas,
Que o rudo engenho meu me desengana.Porém da vossa pena ilustre mana
Licor que vence as águas Cabalinas;
E convosco do Tejo as flores finas
FarĂŁo inveja Ă cĂłpia Mantuana.E pois a vĂłs, de si nĂŁo sendo avaras,
As filhas de MnemĂłsine fermosa
Partes dadas vos tĂŞm ao mundo claras;A minha Musa, e a vossa tĂŁo famosa,
Ambas se podem nele chamar raras,
A vossa de alta, a minha de invejosa.
Se me vem tanta glĂłria sĂł de olhar-te
Se me vem tanta glĂłria sĂł de olhar-te,
É pena desigual deixar de ver-te;
Se presumo com obras merecer-te,
GrĂŁo paga de um engano Ă© desejar-te.Se aspiro por quem Ă©s a celebrar-te,
Sei certo por quem sou que hei-de ofender-te;
Se mal me quero a mim por bem querer-te,
Que prémio querer posso mais que amar-te?Porque um tão raro amor não me socorre?
Ă“ humano tesouro! Ă“ doce glĂłria!
Ditoso quem à morte por ti corre!Sempre escrita estarás nesta memória;
E esta alma viverá, pois por ti morre,
Porque ao fim da batalha Ă© a vitĂłria.
Esforço Grande, Igual Ao Pensamento;
Esforço grande, igual ao pensamento;
pensamentos em obras divulgados,
e nĂŁo em peito timido encerrados
e desfeitos despois em chuva e vento;animo da cobiça baixa isento,
dino por isso sĂł de altos estados,
fero açoute dos nunca bem domados
povos do Malabar sanguinolento;gentileza de membros corporais,
ornados de pudica continĂŞncia,
obra por certo rara de natura:estas virtudes e outras muitas mais,
dinas todas da homérica eloquência,
jazem debaixo desta sepultura