Choro De Vagas
Não é de águas apenas e de ventos,
No rude som, formada a voz do Oceano.
Em seu clamor – ouço um clamor humano;
Em seu lamento – todos os lamentos.SĂŁo de náufragos mil estes acentos,
Estes gemidos, este aiar insano;
Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano,
Vejo-os varridos de tufões violentos;Vejo-os na escuridão da noite, aflitos,
Bracejando ou já mortos e de bruços,
Largados das marĂ©s, em ermas plagas…Ah! que sĂŁo deles estes surdos gritos,
Este rumor de preces e soluços
E o choro de saudades destas vagas!
Sonetos sobre Oceanos de Alberto d'Oliveira
3 resultadosAfrodite I
Móvel, festivo, trépido, arrolando,
Ă€ clara voz, talvez da turba iriada
De sereias de cauda prateada,
Que vĂŁo com o vento os carmes concertando,O mar, – turquesa enorme, iluminada,
Era, ao clamor das águas, murmurando,
Como um bosque pagĂŁo de deuses, quando
Rompeu no Oriente o pálio da alvorada.As estrelas clarearam repentinas,
E logo as vagas sĂŁo no verde plano
Tocadas de ouro e irradiações divinas;O oceano estremece, abrem-se as brumas,
E ela aparece nua, Ă flor de oceano,
Coroada de um cĂrculo de espumas.
O Mar Agita-se, como um Alucinado
O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor…
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassĂvel, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:Assim devemos nĂłs, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!