Soneto de amor
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma… Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas lĂnguas se busquem, desvairadas…
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.E em duas bocas uma lĂngua…, — unidos,
NĂłs trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.Depois… — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada…
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
Sonetos sobre Olhos de José Régio
3 resultadosNarciso
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço…
Ah, que terrĂvel face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silĂŞncio esfĂngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:Que eu vivo Ă espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
…Lá no fundo do poço em que me espelho!
Testamento do Poeta
Todo esse vosso esforço é vão, amigos:
Não sou dos que se aceita… a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos;
Não peço a vossa esmola de mendigos.O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!E o mesmo digo a tudo e a todos, – hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos,
E ao meu próprio Deus nego, e o ar me foge.Para reaver, porém, todo o Universo,
E amar! e crer! e achar meus mil sentidos!….
Basta-me o gesto de contar um verso.