Anfitrite

Louco, Ă s doudas, roncando, em lĂĄtegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia

Enruga e torce o manto Ă  prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.

A seus uivos, o mar chora o seu pranto insano,
Grita, ulula, revolto, e o largo dorso arqueia;
Perdida ao longe, como um pĂĄssaro que anseia,
Alva e esguia, uma nau avança a todo o pano.

Sossega o vento; cala o oceano a sua mĂĄgoa;
Surge, esplĂȘndida, e vem, envolta em ĂĄurea bruma,
Anfitrite, e, a sorrir, nadando à tona d’água,

Lá vai
 mostrando à luz suas formas redondas,
Sua clara nudez salpicada de espuma,
Deslizando no glauco amĂ­culo das ondas.