Vingança
“Vingança…”
I
Ontem eu a possuí … e você não é minha!
Paradoxo talvez, mas tudo aconteceu …
Em pensamento, o beijo eu colhia, tinha
o sabor desse beijo que você não deu …De olhos cerrados, louco, a sua imagem vinha
com a força do que é real e se impôs ao meu”eu”…
E o corpo que eu tocava e a minha mão sustinha,
na sombra, aos meus sentidos cegos – era o seu!Ontem por mais que a idéia seja estranha e louca,
– você foi minha enfim!… apertei-a ao meu peito…
desmanchei seus cabelos… machuquei-lhe a boca!E possuía afinal, – num ímpeto criador –
vingando o meu orgulho abatido e desfeito
num doentio segundo de paixão e amor!
Sonetos sobre Ontem de J. G. de Araújo Jorge
5 resultadosMentira
Tanta cousa passou… E, no entanto, vivemos
noutros tempos, felizes, como namorados…
– Nossa vida… ora a vida, era um barco sem remos,
levando-nos ao léu… a sonhar acordados…Ontem juntos, felizes… hoje, separados,
– (não pensei que este amor chegasse a tais extremos…)
E sorrimos em vão… sorrimos conformados
na mentira cruel de que a tudo esquecemos. . .Cruzamos nossos passos muita vez: – é a vida!
– eu, volto o rosto (fraco à paixão que ainda sinto),
tu, recalcando o amor, nem me olhas, distraída…Mentira inútil, cruel… se ontem, tal como agora,
tu sabes que padeço, sabes quanto eu minto,
e eu sei quanto este amor te atormenta e devora!
Fui Gostar De Você
“Fui Gostar de Você”
III
Fui gostar de você… Eu, que dizia:
– jamais hei de gostar! Gostar é crer,
e crer é quase amar – e amar é a via
mais curta entre o bom senso e o enlouquecer.. .Fui gostar de você… Certo a ironia
da sorte nos obriga a desdizer…
Ontem, zombava de quem chora, e ria;
– hoje, inverso afinal é o meu viver. ..Fui gostar de você – você no entanto
já tendo um grande amor, fez-me o veneno
do despeito tragar no amargo pranto…E no fim disto tudo. . . – ninguém crê. . .
– Infeliz, muito embora eu me condeno
eu ainda defendo o que me fez você!…
Dois Caminhos
Eu queria te dar minha emoção mais pura,
associar-te ao meu sonho e dividir contigo
migalha por migalha, o pouco de ventura
que pudesse colher no caminho onde sigo…E esse estranho desejo em que se desfigura
a palavra de amor e pureza que eu digo,
– e queria te dar essa minha ternura
que às vezes, por trair-se ao teu olhar, maldigo…Bem que eu quis te ofertar meu destino, meu sonho,
minha vida, e até mesmo esta efêmera glória
que desperdiço a cantar nos versos que componho…Nada quiseste…E assim, os sonhos que viviam,
se ontem, puderam ser um começo de história,
hoje, são dois caminhos que se distanciam…
Espera
Se tivesse mandado uma palavra: -“espera!”
Sem mais nada, nem mesmo explicar até quando,
eu teria ficado até hoje esperando…
– era a eterna ilusão de que fosses sincera…Que importa a vida, o Sol, a primavera,
se eras a vida, o Sol, a flor desabrochando?
Se tivesses mandado uma palavra: -“espera!”
eu teria ficado até hoje esperando…Não mandaste, tu nada disseste, e eu segui
sem saber que fazer da vida que era tua
procurando com o mundo esquecer-me de ti…E afinal o destino, irônico e mordaz,
ontem, fez-me cruzar com o teu olhar na rua,
ouvir dizer-te: -“espera!…”E ser tarde demais…