Inania Verba
Ah! quem hĂĄ de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca nĂŁo diz, o que a mĂŁo nĂŁo escreve?
– Ardes, sangras, pregada a’ tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava…O Pensamento ferve, e Ă© um turbilhĂŁo de lava:
A Forma, fria e espessa, Ă© um sepulcro de neve…
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.Quem o molde acharĂĄ para a expressĂŁo de tudo?
Ai! quem hĂĄ de dizer as Ăąnsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissÔes de amor que morrem na garganta?!
Sonetos sobre Palavras de Olavo Bilac
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Palavras
As palavras do amor expiram como os versos,
Com que adoço a amargura e embalo o pensamento:
Vagos clarÔes, vapor de perfumes dispersos,
Vidas que nĂŁo tĂȘm vida, existĂȘncias que invento;Esplendor cedo morto, Ăąnsia breve, universos
De pĂł, que o sopro espalha ao torvelim do vento,
Raios de sol, no oceano entre as ĂĄguas imersos
-As palavras da fĂ© vivem num sĂł momento…Mas as palavras mĂĄs, as do Ăłdio e do despeito,
O “nĂŁo!” que desengana, o “nunca!” que alucina,
E as do aleive, em baldÔes, e as da mofa, em risadas,Abrasam-nos o ouvido e entram-nos pelo peito:
Ficam no coração, numa inércia assassina,
ImĂłveis e imortais, como pedras geladas.