Lápide
(com tema de VirgĂlio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)Quando eu morrer, nĂŁo soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo ChĂŁo pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundidoque, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
Ă tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
Sonetos sobre Pedras de Ariano Suassuna
6 resultadosO Amor E A Morte
(com tema de Augusto dos Anjos)
Sobre essa estrada ilumineira e parda
dorme o Lajedo ao sol, como uma Cobra.
Tua nudez na minha se desdobra
— ó Corça branca, ó ruiva Leoparda.O Anjo sopra a corneta e se retarda:
seu Cinzel corta a pedra e o Porco sobra.
Ao toque do Divino, o bronze dobra,
enquanto assolo os peitos da javarda.Vê: um dia, a bigorna desses Paços
cortará, no martelo de seus aços,
e o sangue, hão de abrasá-lo os inimigos.E a Morte, em trajos pretos e amarelos,
brandirá, contra nós, doidos Cutelos
e as Asas rubras dos Dragões antigos.
O Mundo Do SertĂŁo
(com tema do nosso armorial)
Diante de mim, as malhas amarelas
do mundo, Onça castanha e destemida.
No campo rubro, a Asma azul da vida
Ă cruz do Azul, o Mal se desmantela.Mas a Prata sem sol destas moedas
perturba a Cruz e as Rosas mal perdidas;
e a Marca negra esquerda inesquecida
corta a Prata das folhas e fivelas.E enquanto o Fogo clama a Pedra rija,
que até o fim, serei desnorteado,
que até no Pardo o cego desespera,o Cavalo castanho, na cornija,
tenha alçar-se, nas asas, ao Sagrado,
ladrando entre as Esfinges e a Pantera.
A Moça Caetana A Morte Sertaneja
(com tema de Deborah Brennand)
Eu vi a Morte, a moça Caetana,
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mĂŁo direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.Na fronte, uma coroa e o GaviĂŁo.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do SertĂŁo,pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.
A Morte – O Sol Do TerrĂvel
(com tema de Renato Carneiro Campos)
Mas eu enfrentarei o Sol divino,
o Olhar sagrado em que a Pantera arde.
Saberei porque a teia do Destino
nĂŁo houve quem cortasse ou desatasse.NĂŁo serei orgulhoso nem covarde,
que o sangue se rebela ao toque e ao Sino.
Verei feita em topázio a luz da Tarde,
pedra do Sono e cetro do Assassino.Ela virá, Mulher, afiando as asas,
com os dentes de cristal, feitos de brasas,
e há de sagrar-me a vista o Gavião.Mas sei, também, que só assim verei
a coroa da Chama e Deus, meu Rei,
assentado em seu trono do SertĂŁo.
Aqui Morava Um Rei
“Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibĂŁo,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordĂŁo,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do SertĂŁo.Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.Sua efĂgie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado.”