Sonetos sobre Peito de Cláudio Manuel da Costa

22 resultados
Sonetos de peito de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.

XXVI

NĂŁo vĂŞs, Nise, este vento desabrido,
Que arranca os duros troncos? NĂŁo vĂŞs esta,
Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,
Entre o horror de um relâmpago incendido?

NĂŁo vĂŞs a cada instante o ar partido
Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,
Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,
O raio a cada instante despedido.

Ah! não temas o estrago, que ameaça
A tormenta fatal; que o CĂ©u destina
Vejas mais feia, mais cruel desgraça:

Rasga o meu peito, já que és tão ferina;
Verás a tempestade, que em mim passa;
Conhecerás então, o que é ruína.

XLVIII

Traidoras horas do enganoso gosto,
Que nunca imaginei, que o possuĂ­a,
Que ligeiras passastes! mal podia
Deixar aquele bem de ser suposto.

Já de parte o tormento estava posto;
E meu peito saudoso, que isto via,
As imagens da pena desmentia,
Pintando da ventura alegre o rosto.

Desanda então a fábrica elevada,
Que o plácido Morfeu tinha erigido,
Das espécies do sono fabricada:

EntĂŁo Ă©, que desperta o meu sentido,
Para observar na pompa destroçada,
Verdadeira a ruĂ­na, o bem fingido.