Sonetos sobre Pintores

5 resultados
Sonetos de pintores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Amor Ă© um EspĂ­rito InvisĂ­vel

Dizem que fere amor com passadores
e que traz em matar o pensamento,
mas eu julgo que tem amor de vento
quem cuida haver no mundo tais amores.

Também dizem que o pintam os Pintores
menino, nu e cego: e tĂŁo sem tento,
que Ă© mais cego e mais nu d’entendimento,
quem cuida que em amores cabem tais cores.

Amor Ă© um espĂ­rito invisĂ­vel,
que entra por onde quer, e abranda o peito
sem cor, sem arco, aljava, ou seta dura:

Pode num peito humano o impossĂ­vel,
recebe-se somente no conceito,
e tem no coração posse segura.

Este Retrato Vosso Ă© o Sinal

Este retrato vosso Ă© o sinal
ao longe do que sois, por desamparo
destes olhos de cá, porque um tão claro
lume nĂŁo pode ser vista mortal.

Quem tirou nunca o sol por natural?
Nem viu, se nuvens nĂŁo fazem reparo,
em noite escura ao longe aceso um faro?
Agora se nĂŁo vĂŞ, ora vĂŞ mal.

Para uns tais olhos, que ninguém espera
de face a face, gram remédio fora
acertar o pintor ver-vos sorrindo.

Mas inda assim nĂŁo sei que ele fizera,
que a graça em vós não dorme em nenhuma hora.
Falando que fará? Que fará rindo?

Conto de Fadas

Eu trago-te nas mĂŁos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha prĂłpria dor.

Os meus gestos sĂŁo ondas de Sorrento…
Trago no nome as letras de uma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepĂşsculos da tarde,
O sol que Ă© d’oiro, a onda que palpita.

Dou-te comigo o mundo que Deus fez!
– Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A Princesa do conto: “Era uma vez…”

Colar De PĂ©rolas

A F’licidade Ă© um colar de pĂ©rolas,
PĂ©rolas caras, de valor pujante,
Belas estrofes de Petrarca e Dante
Mais cintilantes que as manhãs mais cérulas.

Para que enfim esse colar bendito,
Perdure sempre, inteiramente egrégio,
Como uma tela do pintor Correggio,
Sem resvalar no lodaçal maldito:

Faz-se preciso umas paixões bem retas,
Cheias de uns tons de muito sol — completas…
Faz-se preciso que do amor na febre,

Nos grandes lances de vigor preclaro,
Desse colar esplendoroso e raro,
Nem uma pĂ©rola, uma sĂł se quebre!…

Bem Mostrou o Pintor Estilo Agudo

Bem mostrou o pintor estilo agudo
No retrato, senhora, que vos mando,
Pois nĂŁo sĂł o parecer foi retratando,
Mas os efeitos com mais alto estudo.

Se vai mudo ante vĂłs, eu fico mudo;
Se surdo, e cego, bem cego, e surdo ando;
Se morto, a vida vai-se-me acabando;
Em fim que vai conforme a mim em tudo.

Mas na ventura fica avantajado,
Que vai (com gosto vosso) Ă  vossa mĂŁo,
Onde será melhor visto, e tratado:

MercĂŞs, que se deviam por razĂŁo
Ao prĂłprio original, porque o traslado
Não vê, nem sente de que preço são.