Sonetos sobre Prata de Cruz e Souza

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Sonetos de prata de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

PlenilĂșnio

VĂȘs este cĂ©u tĂŁo lĂ­mpido e constelado
E este luar que em fĂșlgida cascata,
Cai, rola, cai, nuns borbotĂ”es de prata…
VĂȘs este cĂ©u de mĂĄrmore azulado…

VĂȘs este campo intĂ©rmino, encharcado
Da luz que a lua aos pĂĄramos desata…
VĂȘs este vĂ©u que branco se dilata
Pelo verdor do campo iluminado…

VĂȘs estes rios, tĂŁo fosforescentes,
Cheios duns tons, duns prismas reluzentes,
VĂȘs estes rios cheios de ardentias…

VĂȘs esta mole e transparente gaze…
Pois Ă©, como isso me parecem quase
Iguais, assim, Ă s nossas alegrias!

Cristo De Bronze

Ó Cristos de ouro, de marfim, de prata,
Cristos ideais, serenos, luminosos,
EnsangĂŒentados Cristos dolorosos
Cuja cabeça a Dor e a Luz retrata.

Ó Cristos de altivez intemerata,
Ó Cristos de metais estrepitosos
Que gritam como os tigres venenosos
Do desejo carnal que enerva e mata.

Cristos de pedra, de madeira e barro…
Ó Cristo humano, estĂ©tico, bizarro,
Amortalhado nas fatais injurias…

Na rija cruz aspérrima pregado
Canta o Cristo de bronze do Pecado,
Ri o Cristo de bronze das luxĂșrias!…

Incensos

Dentre o chorar dos trĂȘmulos violinos,
Por entre os sons dos órgãos soluçantes
Sobem nas catedrais os neblinantes
Incensos vagos, que recordam hinos…

Rolos d’incensos alvadios, finos
E transparentes, fulgidos, radiantes,
Que elevam-se aos espaços, ondulantes,
Em Quimeras e Sonhos diamantinos.

Relembrando turĂ­bulos de prata
Incensos aromĂĄticos desata
Teu corpo ebĂșrneo, de sedosos flancos.

Claros incensos imortais que exalam,
Que lĂąnguidas e lĂ­mpidas trescalam
As luas virgens dos teus seios brancos.

As Estrelas

Lå, nas celestes regiÔes distantes,
No fundo melancĂłlico da Esfera,
Nos caminhos da eterna Primavera
Do amor, eis as estrelas palpitantes.

Quantos mistérios andarão errantes,
Quantas almas em busca da Quimera,
LĂĄ, das estrelas nessa paz austera
Soluçarão, nos altos céus radiantes.

Finas flores de pérolas e prata,
Das estrelas serenas se desata
Toda a caudal das ilusÔes insanas.

Quem sabe, pelos tempos esquecidos,
Se as estrelas nĂŁo sĂŁo os ais perdidos
Das primitivas legiÔes humanas?!

Os Dois

Aos pobres

— Minha mĂŁe, minha mĂŁe, quanta grandeza
Nesses plĂĄcidos, quanta majestade;
Como essa gente hĂĄ de viver, como hĂĄ de
Ser grande sempre na feliz riqueza.

Nem uma lĂĄgrima sequer — e Ă  mesa
D’entre as baixelas, d’entre a imensidade
Da prata e do ouro — a azul felicidade
Dos bons manjares de Ăłtima surpresa.

Nem um instante os olhos rasos d’ĂĄgua,
Nem a ligeira oscilação da mågoa
Na vida farta de prazer, sonora.

— Como o teu louco pensamento expandes
Filho — a ventura nĂŁo Ă© sĂł dos grandes
Porque, olha, o mar tambĂ©m Ă© grande e… chore!

A Fonte De Águas Cristalinas Corre

A fonte de ĂĄguas cristalinas corre
Chamalotes de prata levantando,
E através de arvoredos murmurando,
Entre arvoredos murmurando morre…

No ocaso, o sol, a luz no oceano escorre
E sempre vejo, as sombras afrontando,
Uma mulher que canta e ri, lavando,
Mesmo que o sol muito abrasado jorre.

É verde o campo, deleitável e ermo.
Påssaros cortam vastidÔes sem termo,
Borboletas azuis roçam nas åguas.

E cantando, a mulher, a rir a face,
Lava cantando como se lavasse
As suas grandes e profundas mĂĄgoas.

Campesinas VII

Engrinaldada de rosas,
Surge a manhĂŁ pitoresca…
Que linda aquarela fresca
Nas veigas deliciosas!

Que bom gosto e perfumosas
Frutas traz, madrigalesca
A rapariga tudesca
Que vem das searas cheirosas!

Como os rios vĂŁo cantando,
Em sons de prata, ondulando,
Abaixo pelos marnéis!

Que carĂ­cia nas verduras,
Que vigor pelas culturas,
Que de ouro pelos vergéis!

Cristais

Mais claro e fino do que as finas pratas
O som da tua voz deliciava…
Na dolĂȘncia velada das sonatas
Como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
Em lĂąnguida espiral que iluminava,
Brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
De cantos volutuosos como rondas
De silfos leves, sensuais, lascivos…

Como que anseios invisĂ­veis, mudos,
Da brancura das sedas e veludos,
Das virgindades, dos pudores vivos.

Claro E Escuro

Dentro — os cristais dos tempos fulgurantes,
MĂșsicas, pompas, fartos esplendores,
Luzes, radiando em prismas multicores,
Jarras formosas, lustres coruscantes,

PĂșrpuras ricas, galas flamejantes,
CintilaçÔes e cùnticos e flores;
Promiscuamente férvidos odores,
MĂłrbidos, quentes, finos, penetrantes.

Por entre o incenso, em lĂ­mpida cascata,
Dos siderais turĂ­bulos de prata,
Das sedas raras das mulheres nobres;

Clara explosĂŁo fantĂĄstica de aurora,
Deslumbramentos, nos altares! — Fora,
Uma falange intérmina de pobres.