A Minha AusĂȘncia de Ti
Foi tal e qual o inverno a minha ausĂȘncia
de ti, prazer dum ano fugitivo:
dias nocturnos, gelos, inclemĂȘncia;
que nudez de dezembro o frio vivo.E esse tempo de exĂlio era o do verĂŁo;
era a excessiva gravidez do outono
com a volĂșpia de maio em cada grĂŁo:
um seio viĂșvo, sem senhor nem dono.Essa posteridade em seu esplendor
uma esperança de órfãos me parecia:
contigo ausente, o verĂŁo teu servidoremudeceu as aves todo o dia.
Ou tanto as deprimiu, que a folha arfava
e no temor do inverno desmaiava.Tradução de Carlos de Oliveira
Sonetos sobre Prazer de William Shakespeare
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Ăs MĂșsica e a MĂșsica Ouves Triste?
Ăs mĂșsica e a mĂșsica ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer sĂł na melancolia?se a concĂłrdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
sĂŁo-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.VĂȘ que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mĂștuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mĂŁeque, todos num, cantam de encantamento:
à canção sem palavras, våria e em
unĂssono: “sĂł nĂŁo serĂĄs ninguĂ©m”.