Sonetos sobre Prendas de Carlos Drummond de Andrade

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Sonetos de prendas de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros sonetos de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

A Ingaia CiĂȘncia

A madureza, essa terrĂ­vel prenda
que alguém nos då, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vĂȘ, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o cĂ­rculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte noma cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos Ăłcios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciĂȘncia

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mĂŁo, livre de encantos,
se destroem no sonho da existĂȘncia.

A Vida Passada A Limpo

Ó esplĂȘndida lua, debruçada
sobre Joaquim Nabuco, 81.
Tu nĂŁo banhas apenas a fachada
e o quarto de dormir, prenda comum.

Baixas a um vago em mim, onde nenhum
halo humano ou divino fez pousada,
e me penetras, lĂąmina de Ogum,
e sou uma lagoa iluminada.

Tudo branco, no tempo. Que limpeza
nos resĂ­duos e vozes e na cor
que era sinistra, e agora, flor surpresa,

jĂĄ nĂŁo destila mĂĄgoa nem furor:
fruto de aceitação da natureza,
essa alvura de morte lembra amor.