Aboio De Ternura Para Uma Rês Desgarrada Para Astrid Cabral
Fora de tua tribo peixe fora d’água,
bordando as muitas dores no ponto de cruz,
alinhavas rebanhos reunidos na frágua
dos rios da tua infância com escamas de luz.Versos tecidos na cambraia das anáguas
de alices caboclas, yaras-cunhãs do fundo,
encantadas dos peraus, afogando mágoas,
mas que sabem, sestrosas, dos botos do mundo.E os teus pés desgarrados pisaram em nuvens
de ventos sem mormaços, no azul de outras línguas:
águas despidas do alfenim de nossas chuvas.Te sabias folha de relva da ravina
irmã de Whitman e do Khayam simum
próxima do teu gado e rês da própria sina.
Sonetos sobre Próprio de Anibal Beça
3 resultadosA Morte Sendo Amor
Quantas vezes subi com a pedra às costas
para depois descer com o mesmo fardo
torneio em que sou alvo do meu dardo
próprio, a sangrar nas távolas de apostas.Não me sei vencedor. Tampouco guardo
as dores, ou fraturas mais expostas.
Sei que vou quando chego e não me tardo.
Lição que é nascitura e de ocasosna transversal em curva me celebro
o vencedor, o torto sem atrasos.
Eis aí a certeza derradeiraque chega invitável sem ter prazos:
vivi todas subidas e descidas
amortecendo o amor sem as feridas
Poeira (Para José Felix)
Do pó ao pólen posta-se o poema
na penumbra do parto antecipado.
Abre-se uma janela sem algema
presa somente do seu próprio fado.Areia e barro, sol com sua gema,
a gala clara do ovo, visgo dado
ao solo só de vértebras, seu tema
variado na avena: chão arado.O tropo, o trapo, as vestes: eis aí
a massa que caldeia essa bigorna
ensolando alimárias ao se de si.Nada é constante e tudo se transforma.
Eppur si muove em ánima no giz
escrito no vaivém se vai e torna.