Sonetos sobre Queimas de Florbela Espanca

2 resultados
Sonetos de queimas de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

O Meu ImpossĂ­vel

Minh’alma ardente Ă© uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ă‚nsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo Ă© vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito.É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vĂŁo! Deus, que tristeza!…

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E nĂŁo me compreenderam!…VĂŁo e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto…

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, nĂŁo a chorava como agora,
IrmĂŁos, nĂŁo a sentia como a sinto!…

Divino Instante

Ser uma pobre morta inerte e fria,
Hierática, deitada sob a terra,
Sem saber se no mundo há paz ou guerra,
Sem ver nascer, sem ver morrer o dia;

Luz apagada ao alto e que alumia,
Boca fechada Ă  fala que nĂŁo erra,
Urna de bronze que a Verdade encerra,
Ah! ser Eu essa morta inerte e fria!

Ah! fixar o efémero! Esse instante
Em que o teu beijo sĂ´frego de amante
Queima o meu corpo frágil de âmbar loiro;

Ah! fixar o momento em que, dolente,
Tuas pálpebras descem, lentamente,
Sobre a vertigem dos teus olhos de oiro!