Aos Mesmos
De insĂpida sessĂŁo no inĂştil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gĂłtica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.Taful que o portuguĂŞs nĂŁo lhe entendia,
Nem ao resto da cĂ´mica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.Dos sĂłcios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.Fez na calúnia vil cruéis ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mĂŁos de marujos e lacaios.
Sonetos sobre Raios de Manuel Maria Barbosa du Bocage
4 resultadosEsperança Amorosa
Grato silêncio, trémulo arvoredo,
Sombra propĂcia aos crimes e aos amores,
Hoje serei feliz! – Longe, temores,
Longe, fantasmas, ilusões do medo.Sabei, amigos Zéfiros, que cedo
Entre os braços de Nise, entre estas flores,
Furtivas glórias, tácitos favores,
Hei-de enfim possuir: porém segredo!Nas asas frouxos ais, brandos queixumes
Não leveis, não façais isto patente,
Quem nem quero que o saiba o pai dos numes:Cale-se o caso a Jove omnipotente,
Porque, se ele o souber, terá ciúmes,
Vibrará contra mim seu raio ardente.
Ó Tranças De Que Amor Prisões Me Tece
Ó tranças de que Amor prisões me tece,
Ă“ mĂŁos de neve, que regeis meu fado!
Ó tesouro! Ó mistério! Ó par sagrado,
Onde o menino alĂgero adormece!Ă“ ledos olhos, cuja luz parece
TĂŞnue raio de sol! Ă“ gesto amado,
De rosas e açucenas semeado,
Por quem morrera esta alma, se pudesse!Ó lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcĂssimos favores
Talvez o próprio Júpiter suspira!Ó perfeições! Ó dons encantadores!
De quem sois? Sois de Vênus? – É mentira;
Sois de MarĂlia, sois dos meus amores.
Soneto Ditado Na Agonia
Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!… Tivera algum merecimento
Se um raio da razĂŁo seguisse pura.Eu me arrependo; a lĂngua quasi fria
Brade em alto pregĂŁo Ă mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:Outro Aretino fui… a santidade
Manchei!… Oh! Se me creste, gente Ămpia,
Rasga meus versos, crĂŞ na eternidade!.