Sonetos sobre Ramos de Antero de Quental

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Sonetos de ramos de Antero de Quental. Leia este e outros sonetos de Antero de Quental em Poetris.

Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incĂłgnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquĂ­ssimo inimigo…

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paĂșl, glauco pascigo…

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade…

Interrogo o infinito e Ă s vezes choro…
Mas estendendo as mĂŁos no vĂĄcuo, adoro
E aspiro unicamente Ă  liberdade.

Homo

Nenhum de vĂłs ao certo me conhece,
Astros do espaço, ramos do arvoredo,
Nenhum adivinhou o meu segredo,
Nenhum interpretou a minha prece…

NinguĂ©m sabe quem sou… e mais, parece
Que hĂĄ dez mil anos jĂĄ, neste degredo,
Me vĂȘ passar o mar, vĂȘ-me o rochedo
E me contempla a aurora que alvorece…

Sou um parto da Terra monstruoso;
Do hĂșmus primitivo e tenebroso
Geração casual, sem pai nem mĂŁe…

Misto infeliz de trevas e de brilho,
Sou talvez Satanás; — talvez um filho
Bastardo de JeovĂĄ; — talvez ninguĂ©m!