O Corpo
Ante as portas desgarradas, paradoxal
Ć© a morte: impossĆvel, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livrear. Que te transformes e assemelhes Ć noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiraĆ§Ć£o com voz, Ć”rea que habitaste,
vĆ”ria e discordante, a cada movimento.E agora que a luz desfalece e nĆ£o a tocas,
nem por ela Ć©s tocado, a palavra deixou
de ser a tua pĆ”tria e nĆ£o mais esfoliaso espaƧo. Agora, que jĆ” nada mudarĆ”,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frƔgil espaƧo que foi teu.
Sonetos sobre RespiraĆ§Ć£o de Orlando Neves
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