Sonetos sobre Rigor de Violante do CĂ©u

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Sonetos de rigor de Violante do CĂ©u. Leia este e outros sonetos de Violante do CĂ©u em Poetris.

Antes que Vosso Amor Meu Peito Vença

Serå brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, våria a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;

Terå a ingratidão firme lembrança,
SerĂĄ rude o saber, sĂĄbia a rudeza,
Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Áspero o a mor, benigna a esquivança;

SerĂĄ merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.

Tirano Deus Cupido

Que suspensĂŁo, que enleio, que cuidado
É este meu, tirano deus Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.

Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho sĂł de vida o bem sentido
E tenho jĂĄ de morte o mal logrado.

Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) nĂŁo se suspende.

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto
Que para quem de ti nĂŁo se defende
Basta menos rigor, nĂŁo rigor tanto.

A uma Suspeita

Amor, se uma mudança imaginada
É com tanto rigor minha homicida,
Que farĂĄ, se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?

Se sĂł por ser de mim tĂŁo receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que farĂĄ, se chegar a ser sabida?
Que farĂĄ, se passar de suspeitada?

Porém, jå que me mata, sendo incerta,
Somente o imaginĂĄ-la e presumi-la,
Claro estĂĄ, pois da vida o fio corta.

Que me farĂĄ depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.