Sonetos sobre Risco

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Sonetos de risco escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A uma AusĂȘncia

Sinto-me, sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me då cuidado.

Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo, se me ausenta,
E o que estou sem ver, mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado.

Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima å confiança;
Do que menos se espera estou mais certo.

Mas se de confiado desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.

Meu Coração é um Enorme Estrado

ConclusĂŁo a sucata !… Fiz o cĂĄlculo,
Saiu-me certo, fui elogiado…
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expĂ”e um pequeno animĂĄlculo…

A microscópio de desilusÔes
Findei, prolixo nas minĂșcias fĂșteis…
Minhas conclusĂ”es prĂĄticas, inĂșteis…
Minhas conclusĂ”es teĂłricas, confusĂ”es…

Que teorias hĂĄ para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou ?

Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou…

Quem Quiser Ver D’amor Üa ExcelĂȘncia

Quem quiser ver d’Amor ĂŒa excelĂȘncia
onde sua fineza mais se apura,
atente onde me pÔe minha ventura,
por ter de minha fĂ© experiĂȘncia.

Onde lembranças mata a longa ausĂȘncia,
em temeroso mar, em guerra dura,
ali a saudade estĂĄ segura,
quando mor risco corre a paciĂȘncia.

Mas ponha me Fortuna e o duro Fado
em nojo, morte, dano e perdição,
ou em sublime e prĂłspera ventura;

Ponha me, enfim, em baixo ou alto estado;
que até na dura morte me acharão
na lĂ­ngua o nome, n’alma a vista pura.

Soneto XVI

JĂĄ tramontado o Sol do assento puro,
Debuxadas se vĂȘem no claro rio
As seis filhas de Atlante pelo estio,
Cobre-se Electra, sĂł, de um manto escuro.

JĂĄ que com tanto risco me aventuro,
E sou tachado por escuro e frio,
Mostrem-se todos, que eu num sĂł desvio
De vergonha escondido estar procuro.

Mas bem sabeis, engenho ilustre e nobre,
Que inda que o lavrador bĂĄrbaro veja
Que nĂŁo sĂŁo mais que seis estas estrelas,

O AstrĂłlogo sĂĄbio, que descobre
Mais avante e co’a vista alĂ©m peleja,
Diz que sĂŁo sete, esconde-se ua delas.

À Cruz

Se em golfo de sereias proceloso,
Empenho repetido do cuidado,
O sĂĄbio grego, ao duro mastro atado,
As sereias escapa cauteloso;

Eu, no mar deste mundo tormentoso,
De sirtes e sereias povoado,
À vossa cruz, Senhor, sempre abraçado,
Os perigos escape venturoso.

Oh! Livrai-me, meu Deus, de tanto astuto
Labirinto, de tanto cego encanto,
Para que colha desta planta o fruto;

Que Ă© justo, doce Amor, em risco tanto,
Se salva a Ulisses um madeiro bruto,
Que a mim me salve este madeiro santo.