Desce em Folhedos Tenros a Colina
Desce em folhedos tenros a colina:
Em glaucos, frouxos tons adormecidos,
Que saram, frescos, meus olhos ardidos,
Nos quais a chama do furor declina…Oh vem, de branco, do imo da folhagem!
Os ramos, leve, a tua mĂŁo aparte.
Oh vem! Meus olhos querem desposar-te,
Refletir virgem a serena imagem.De silva doida uma haste esquiva.
QuĂŁo delicada te osculou num dedo
Com um aljĂŽfar cor de rosa viva!…Ligeira a saia… Doce brisa impele-a…
Oh vem! De branco! Do imo do arvoredo!
Alma de silfo, carne de camĂ©lia…
Sonetos sobre Rosas de Camilo Pessanha
4 resultadosVĂȘnus II
Singra o navio. Sob a ĂĄgua clara
VĂȘ-se o fundo do mar, de areia fina…
– ImpecĂĄvel figura peregrina,
A distĂąncia sem fim que nos separa!Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂȘncia luminosa
Repousam, fundos, sob a ĂĄgua plana.E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrågios, perdiçÔes, destroços!
– Ă fĂșlgida visĂŁo, linda mentira!RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos…
Floriram por Engano as Rosas Bravas
Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhĂĄ-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que hĂĄ pouco me enganavas?Castelos doidos! TĂŁo cedo caĂstes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mĂŁos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vĂŁo tristes!E sobre nĂłs cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chĂŁo, na acrĂłpole de gelos…Em redor do teu vulto Ă© como um vĂ©u!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nĂłs dois, sobre os nossos cabelos?
VĂ©nus
I
Ă flor da vaga, o seu cabelo verde,
Que o torvelinho enreda e desenreda…
O cheiro a carne que nos embebeda!
Em que desvios a razĂŁo se perde!PĂștrido o ventre, azul e aglutinoso,
Que a onda, crassa, num balanço alaga,
E reflui (um olfato que se embriaga)
Como em um sorvo, murmura de gozo.O seu esboço, na marinha turva…
De pé flutua, levemente curva;
Ficam-lhe os pĂ©s atrĂĄs, como voando…E as ondas lutam, como feras mugem,
A lia em que a desfazem disputando,
E arrastando-a na areia, co’a salsugem.II
Singra o navio. Sob a ĂĄgua clara
VĂȘ-se o fundo do mar, de areia fina…
_ ImpecĂĄvel figura peregrina,
A distĂąncia sem fim que nos separa!Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparĂȘncia luminosa
Repousam, fundos, sob a ĂĄgua plana.E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrågios, perdiçÔes, destroços!
_ Ă fĂșlgida visĂŁo, linda mentira!RĂłseas unhinhas que a marĂ© partira…
Dentinhos que o vaivĂ©m desengastara…