Sonetos sobre RouxinĂłis de Florbela Espanca

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Sonetos de rouxinĂłis de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

Alma Perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu Ă©s, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente …
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste … e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa Ă  noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz! …

Noitinha

A noite sobre nĂłs se debruçou…
Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!
O luar, pelas colinas, nesta hora,
É água dum gomil que se entornou…

Não sei quem tanta pérola espalhou!
Murmura alguĂ©m pelas quebradas fora…
Flores do campo, humildes, mesmo agora.
A noite, os olhos brandos, lhes fechou…

Fumo beijando o colmo dos casais…
Serenidade idĂ­lica de fontes,
E a voz dos rouxinĂłis nos salgueirais…

Tranquilidade… calma… anoitecer…
Num ĂŞxtase, eu escuto pelos montes
O coração das pedras a bater…