VIII
Este Ă© o rio, a montanha Ă© esta,
Estes os troncos, estes os rochedos;
SĂŁo estes inda os mesmos arvoredos;
Esta Ă© a mesma rĂşstica floresta.Tudo cheio de horror se manifesta,
Rio, montanha, troncos, e penedos;
Que de amor nos suavĂssimos enredos
Foi cena alegre, e urna é já funesta.Oh quão lembrado estou de haver subido
Aquele monte, e as vezes, que baixando
Deixei do pranto o vale umedecido!Tudo me está a memória retratando;
Que da mesma saudade o infame ruĂdo
Vem as mortas espécies despertando.
Sonetos sobre RuĂdo de Cláudio Manuel da Costa
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V
Se sou pobre pastor, se nĂŁo governo
Reinos, nações, provĂncias, mundo, e gentes;
Se em frio, calma, e chuvas inclementes
Passo o verĂŁo, outono, estio, inverno;Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, coas enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mĂŞs, e o ano;Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que da torpe lisonja o infame ruĂdo.