Sonetos sobre Sangue de Gregório de Matos

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Sonetos de sangue de Gregório de Matos. Leia este e outros sonetos de Gregório de Matos em Poetris.

Um Calção De Pindoba A Meia Zorra

Um calção de pindoba a meia zorra
Camisa de urucu, mantéu de arara,
Em lugar de cotó, arco, e taquara,
Penacho de guarás em vez de gorra.

Furado o beiço, e sem temer que morra
O pai, que lho envazou cuma titara,
Porém a Mãe a pedra lhe aplicara
Por reprimir-lhe o sangue que não corra,

Alarve sem razão, bruto sem fé,
Sem mais leis, que as do gosto, quando erra,
De Paiaiá tornou-se em Abaeté.

Não sei onde acabou, ou em que guerra,
Só sei que deste Adão de Massapé,
Procedem os fidalgos desta terra.

Há Cousa Como Ver Um Paiaiá

Há cousa como ver um Paiaiá,
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente de sangue de tatu,
Cujo torpe idioma é cobepá.

A linha feminina é carimá
Moqueca, pititinga, caruru
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Pirajá.

A masculina é um Aricobé
Cuja filha Cobé, cum branco Paí
Dormiu no promontório de Passé.

O branco é um marau, que veio aqui;
Ela é uma índia de Maré
Cobépá, Aricobé, Cobé, Paí.

Buscando A Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.