Cegos como as Peças de Ouro Reluzentes
A Fama, a Glória, as Armas, a Nobreza,
A Ciência, o Poder e tudo quanto
Em honra e distinção, de canto a canto,
Encerra deste mundo a vã Grandeza,A Pluto, cego deus, com vil baixeza
Adoram de joelhos, como a santo:
Pois só o deus do reino atroz do espanto
Pode ser rei e Numen da riqueza.Do dossel do seu trono estão pendentes
C’roas, mitras, lauréis, brazões, tiaras,
Que o cego deus reparte às cegas gentes.Tudo of’rendar-lhe vai nas torpes aras,
Cegos co’as peças de ouro reluzentes,
A Honra, a Liberdade, as vidas caras.
Sonetos sobre Santos de Francisco Joaquim Bingre
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Basta, não Posso Mais, Mundo Enganoso!
Basta, não posso mais, Mundo enganoso!
Findaram para mim teus vãos prazeres.
Envelheci com eles, que mais queres
Deste escravo ancião, fraco e rugoso?Se o teu carro triunfal puxei, fogoso,
Quando inda forças tinha, nada esperes
Deste caduco mais: quanto fizeres
Para outra vez servir-te, é duvidoso.Enquanto não pensei, fui encantado:
Bebendo em taças de ouro o teu engano,
Eu fui, por ti, em bruto transformado.Graças, graças ao santo Desengano,
Que a forma de homem outra vez me há dado,
Livrando-me de um mágico tirano!