Sonetos sobre Saudades de Cruz e Souza

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Sonetos de saudades de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

Alma Que Chora

A JoĂŁo Saldanha

Em vão do Cristo aos olhos dulçurosos
Onde há o sol do bem e da verdade,
Cheios da luz eterna de saudade,
Como dois mansos corações piedosos,

Em vĂŁo do Cristo os olhos lacrimosos
E aquela doce e pura suavidade
Do seu semblante, casto, de bondade,
Cor do luar dos sonhos venturosos,

Servem de exemplo a dor escruciante
Que te apunhala e fere a cada instante,
A punhaladas rĂ­spidas, austeras!

Viste partir a tua irmĂŁ, se, viste,
Como num céu enévoado e triste
O bando azul das fĂşlgidas quimeras…

Sonhador

Por sĂłis, por belos sĂłis alvissareiros,
Nos troféus do teu Sonho irás cantando
As pĂşrpuras romanas arrastando,
Engrinaldado de imortais loureiros.

Nobre guerreiro audaz entre os guerreiros,
Das Idéias as lanças sopesando,
Verás, a pouco e pouco, desfilando
Todos os teus desejos condoreiros…

Imaculado, sobre o lodo imundo,
Há de subir, com as vivas castidades,
Das tuas glĂłrias o clarĂŁo profundo.

Há de subir, além de eternidades,
Diante do torvo crocitar do mundo,
Para o branco Sacrário das Saudades!

Eternidade Retrospectiva

Eu me recordo de já ter vivido,
Mudo e sĂł, por olĂ­mpicas Esferas,
onde era tudo velhas primaveras
E tudo um vago aroma indefinido.

Fundas regiões do Pranto e do Gemido
Onde as almas mais graves, mais austeras
Erravam como trĂŞmulas quimeras
Num sentimento estranho e comovido.

As estrelas, longĂ­nquas e veladas,
Recordavam violáceas madrugadas,
Um clarĂŁo muito leve de saudade.

Eu me recordo d’imaginativos
Luares liriais, contemplativos
Por onde eu já vivi na Eternidade!

Eterno Sonho

Quelle est donc cette femme?
Je ne comprendrai pas.
FĂ©lix Arvers

Talvez alguém estes meus versos lendo
NĂŁo entenda que amor neles palpita,
Nem que saudade trágica, infinita
Por dentro dele sempre está vivendo.

Talvez que ela nĂŁo fique percebendo
A paixĂŁo que me enleva e que me agita,
Como de uma alma dolorosa, aflita
Que um sentimento vai desfalecendo.

E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
Diga, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil e carinhosa e franca:

— Ah! bem conheço o teu afeto triste…
E se em minha alma o mesmo nĂŁo existe,
É que tens essa cor e é que eu sou branca!

Asas Abertas

As asas da minh’alma estĂŁo abertas!
Podes te agasalhar no meu Carinho,
Abrigar-te de frios no meu Ninho
Com as tuas asas trĂŞmulas, incertas.

Tu’alma lembra vastidões desertas
Onde tudo Ă© gelado e Ă© sĂł espinho.
Mas na minh’alma encontrarás o Vinho
e as graças todas do Conforto certas.

Vem! Há em mim o eterno Amor imenso
Que vai tudo florindo e fecundando
E sobe aos céus como sagrado incenso.

Eis a minh’alma, as asas palpitando
Com a saudade de agitado lenço
o segredo dos longes procurando…