Ă€ Revolta
A Cassiano CĂ©sar
O século é de revolta — do alto transformismo,
De Darwin, de Littré, de Spencer, de Laffite —
Quem fala, quem dá leis é o rubro niilismo
Que traz como divisa a bala-dinamite!…Se é força, se é preciso erguer-se um evangelho,
Mais reto, que instrua — estético — mais novo
Esmaguem-se do trono os dogmas de um Velho
E lance-se outro sangue aos mĂşsculos do povo!…O vĂcio azinhavrado e os cĂ©rebros raquĂticos,
É pĂ´-los ao olhar dos sĂ©rios analĂticos,
Na ampla, social e esplêndida vitrine!…À frente!… — Trabalhar a luz da idéia nova!…
— Pois bem! Seja a idĂ©ia, quem lance o vĂcio Ă cova,
— Pois bem! — Seja a idéia, quem gere e quem fulmine!…
Sonetos sobre SĂ©culos de Cruz e Souza
3 resultadosRir!
Rir! Não parece ao século presente
Que o rir traduza, sempre, uma alegria…
Rir! Mas nĂŁo rir como essa pobre gente
Que ri sem arte e sem filosofia.Rir! Mas com o rir atroz, o rir tremente,
Com que André Gil eternamente ria.
Rir! Mas com o rir demolidor e quente
Duma profunda e trágica ironia.Antes chorar! Mais fácil nos parece.
Porque o chorar nos ilumina e nos aquece
Nesta noite gelada do existir.Antes chorar que rir de modo triste…
Pois que o difĂcil do rir bem consiste
Só em saber como Henri Heine rir!…
Guerra Junqueiro
Quando ele do Universo o largo supedâneo
Galgou como os clarões — quebrando o que não serve,
Fazendo que explodissem os astros de seu crânio,
As gemas da razão e os músculos da verve;Quando ele esfuziou nos páramos as trompas,
As trompas marciais — as liras do estupendo,
Pejadas de prodĂgios, assombros e de pompas,
Crescendo em proporções, crescendo e recrescendo;Quando ele retesou os nervos e as artérias
Do verso orbicular — rasgando das misérias
O ventre do Ideal na forte hematemese.Clamando — é minha a luz, que o século propague-a,
Quando ele avassalou os pĂncaros da águia
E o sol do Equador vibrou-lhe aquelas teses!