Gonçalves Dias
(AO PĂ DO MAR)
SE EU PUDESSE cantar a grande histĂłria,
Que envolve ardente o teu viver brilhante…
Filho dos trĂłpicos que – audaz gigante –
Desceste ao tĂșmulo subindo Ă GlĂłria!Teu tĂșmulo colossal – nest’hora eu fito –
Altivo, rugidor, sonoro, extenso –
O mar!… e ……. O sim, teu crĂąnio imenso
SĂł podia conter-se no infinito…E eu – sou louco talvez – mas quando, forte,
Em seu dorso resvala – ardente – norte,
E ele espumante estruge, brada, grita,E em cada vaga uma canção estoura…
Eu – creio ser tu’alma que, sonora,
Em seu seio sem fim – brava – palpita!
Sonetos sobre Seios de Euclides da Cunha
6 resultadosReminiscĂȘncia
Um dia a vi, nas lamas da miséria,
Como entre pĂąntanos um branco lĂrio,
Velada a fronte em palidez funérea,
O frio vĂ©u das noivas do martĂrio!Pedia esmola â pequena e sĂ©ria â
Os seios, pastos de eternal delĂrio,
Cobertos eram de uma cor cinĂ©rea â
Seus olhos tinham o brilhar do cĂrio.Tempos depois nâum carro â audaz, brilhante,
Uma mulher eu vi â febril, galante…
Lancei-lhe o olhar e… maldição! tremi…Ria-se â cĂnica, servil… faceira?
O carro nâuma nuvem de poeira
Se arremessou… e eu nunca mais a vi!
Saint-Just
Quando à tribuna ele se ergueu, rugindo,
– Ao forte impulso das paixĂ”es audazes
Ardente o lĂĄbio de terrĂveis frases
E a luz do gĂȘnio em seu olhar fulgindo,A tirania estremeceu nas bases,
De um rei na fronte ressumou, pungindo,
Um suor de morte e um terror infindo
Gelou o seio aos cortesĂŁos sequazes –Uma alma nova ergueu-se em cada peito,
Brotou em cada peito uma esperança,
De um sono acordou, firme, o Direito –E a Europa – o mundo – mais que o mundo, a França –
Sentiu numa hora sob o verbo seu
As comoçÔes que em séculos não sofreu!
Um Soneto
A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lĂĄbio trĂȘmulo, esplĂȘndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espĂĄdua e devorou-te o seio.Depois, delĂrio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciĂȘncia, a crença
Lancei no incĂȘndio dos olhares teus…Hoje estou pronto Ă lĂvida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
JĂĄ disse ontem Ă noite, adeus, a Deus!
Amor Algébrico
Acabo de estudar – da ciĂȘncia fria e vĂŁ,
O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,
Acabo de arrancar a fronte minha ardente
Das påginas cruéis de um livro de Bertrand.Bem triste e bem cruel decerto foi o ente
Que este Saara atroz – sem aura, sem manhĂŁ,
A Ălgebra criou – a mente, a alma mais sĂŁ
Nela vacila e cai, sem um sonho virente.Acabo de estudar e pĂĄlido, cansado,
Dumas dez equaçÔes os véus hei arancado,
Estou cheio de spleen, cheio de tĂ©dio e giz.Ă tempo, Ă© tempo pois de, trĂȘmulo e amoroso,
Ir dela descansar no seio venturoso
E achar do seu olhar o luminoso X.
Marat
Foia a alma cruel das barricadas!…
Misto de luz e lama!… se ele ria,
As pĂșrpuras gelavam-se e rangia
Mais de um trono, se dava gargalhadas!…FanĂĄtico da luz… porĂ©m seguia
Do crime as torvas, lĂvidas pisadas.
Armava, à noite, aos coraçÔes ciladas,
Batia o despotismo à luz do dia.No seu cérebro tremente negrejavam
Os planos mais cruéis e cintilavam
As idéias mais bravas e brilhantes.Hå muito que um punhal gelou-lhe o seio.
Passou… deixou na histĂłria um rastro cheio
De lĂĄgrimas e luzes ofuscantes.