Sonetos sobre Seios

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Sonetos de seios escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Elogio da Morte

I

Altas horas da noite, o Inconsciente
Sacode-me com força, e acordo em susto.
Como se o esmagassem de repente,
Assim me påra o coração robusto.

NĂŁo que de larvas me povĂŽe a mente
Esse vĂĄcuo nocturno, mudo e augusto,
Ou forceje a razĂŁo por que afugente
Algum remorso, com que encara a custo…

Nem fantasmas nocturnos visionĂĄrios,
Nem desfilar de espectros mortuĂĄrios,
Nem dentro de mim terror de Deus ou Sorte…

Nada! o fundo dum poço, hĂșmido e morno,
Um muro de silĂȘncio e treva em torno,
E ao longe os passos sepulcrais da Morte.

II

Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiÔes do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.

Atravesso, no escuro, a névoa fria
D’um mundo estranho, que povĂŽa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visÔes da noite se confia.

Que mĂ­sticos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem,
A meus olhos, na muda imensidade!

N’esta viagem pelo ermo espaço,

Continue lendo…

Pecadores

Ali – no canto escuro do jardim
nĂŁo havia o menor sinal de gente…
SĂł nĂłs dois… E eu entĂŁo, sensualmente
beijei-te a boca… o seio… tudo enfim…

Nem eu sei bem dizer o que se sente,
quando estreitei teu corpo junto a mim…
– Embriaguei-me talvez… completamente…
– naquele canto escuro do jardim…

Fui ousado, bem sei… Dizias: – nĂŁo!
– mas nĂŁo pude te ouvir sentindo aquela
tão louca e indescritível sensação

E pequei. . . – Pecaria outro qualquer
– Foi mais culpado o Deus que te fez bela
e ele – o DemĂŽnio – que te fez mulher!

Êxtase BĂșdico

Abre-me os braços, Solidão profunda,
ReverĂȘncia do cĂ©u, solenidade
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ó planetária comunhão fecunda!

Óleo da noite, sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dĂĄ-me essa castidade,
As azuis florescĂȘncias da saudade,
Graça das graças imortais oriunda!

As estrelas cativas no teu seio
DĂŁo-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!

Abre-me os braços, Solidão radiante,
Funda, fenomenal e soluçante,
Larga e bĂșdica Noite Redentora!

Campesinas IV

Através das romãzeiras
E dos pomares floridos
Ouvem-se as vezes ruĂ­dos
E bater d’asas ligeiras.

SĂŁo as aves forasteiras
Que dos seus ninhos queridos
VĂȘm dar ali os gemidos
Das ilusÔes passageiras.

VĂȘm sonhar leves quimeras,
IdĂ­lios de primaveras,
Contar os risos e os males.

VĂȘm chorar um seio de ave
Perdida pela suave
CarĂ­cia verde dos vales.

Leio-Te: – O Pranto Dos Meus Olhos Rola:

Leio-te: – o pranto dos meus olhos rola:
– Do seu cabelo o delicado cheiro,
Da sua voz o timbre prazenteiro,
Tudo do livro sinto que se evola …

Todo o nosso romance: – a doce esmola
Do seu primeiro olhar, o seu primeiro
Sorriso, – neste poema verdadeiro,
Tudo ao meu triste olhar se desenrola.

Sinto animar-se todo o meu passado:
E quanto mais as pĂĄginas folheio,
Mais vejo em tudo aquele vulto amado.

Ouço junto de mim bater-lhe o seio,
E cuido vĂȘ-la, plĂĄcida, a meu lado,
Lendo comigo a pĂĄgina que leio.

A Flor Do Sonho

A Flor do Sonho, alvĂ­ssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnĂłlia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruĂ­na.

Pende em meu seio a haste branda e fina
E nĂŁo posso entender como Ă© que, enfim,
Essa tĂŁo rara flor abriu assim! …
Milagre… fantasia… ou, talvez, sina…

Ó flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles sĂŁo tristes pelo amor de ti?!…

Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa da minh’alma
E nunca, nunca mais eu me entendi…

VolĂșpia

Quisera te associar Ă  pureza e Ă  candura
quando pensasse em ti… Mas a emoção, teimosa,
transforma sem querer toda a minha ternura
numa estranha lembrança ardente voluptuosa…

Não poderei dizer apenas que és formosa
quando a prĂłpria beleza em ti se transfigura,
– e pela tua carne hĂĄ pĂ©talas de rosa
e no teu corpo hĂĄ um canto fresco de ĂĄgua pura!

Um sincero pudor vislumbro em teus enleios,
mas se disser que te amo com pureza, eu minto,
– no olhar trago tatuada a visĂŁo de teus seios…

E em vão tento associar-te ao céu, à fonte, à flor!
Quando falo de ti, penso em teu corpo, e sinto
que ainda estremece em mim teu Ășltimo estertor!

Plena Nudez

Eu amo os gregos tipos de escultura:
PagĂŁs nuas no mĂĄrmore entalhadas;
Não essas produçÔes que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliĂȘncias destacadas…

NĂŁo quero, a VĂȘnus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevĂȘ-la
De transparente tĂșnica atravĂ©s:

Quero vĂȘ-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus… toda nua, da cabeça aos pĂ©s!

Terra Do Brasil

Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dĂĄ materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.

Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lĂĄ me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando serĂĄ meu sono e sem tardança…

Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memĂłria,
Ăł doce PĂĄtria, sonharei contigo!

E entre visÔes de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressĂ”es, nem alma… Abre-me o seio,
Deixa cair as pĂĄlpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas lĂ­nguas se busquem, desvairadas…
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ĂĄgeis e delgadas.

E em duas bocas uma lĂ­ngua…, — unidos,
NĂłs trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois… — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; nĂŁo digas nada…
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

À Alma De Minha Mãe

Partiu-se o fio branco e delicado
Dos sonhos de minh’alma desditosa…
E as contas do rosĂĄrio assim quebrado
CaĂ­ram como folhas de uma rosa.

Debalde eu as procuro lacrimosa,
Estas doces relĂ­quias do Passado,
Para guardĂĄ-las na urna perfumosa,
Do meu seio no cofre imaculado.

AĂ­! se eu ao menos uma sĂł pudesse
D’estas contas achar que me fizesse
Lembrar um mundo de alegrias doidas…

Feliz seria… Mas minh’alma atenta
Em vĂŁo procura uma continha benta:
Quando partiste m’as levaste todas!

Terra

Ó Terra, amável mãe da Natureza!
Fecunda em produçÔes de imensos entes,
Criadora das prĂłvidas sementes
Que abastam toda a tua redondeza!

Teu amor sem igual, sem par fineza,
Teus maternais efeitos providentes
DĂŁo vida aos seres todos existentes,
DĂŁo brio, dĂŁo vigor, dĂŁo fortaleza.

Tu rasgas do teu corpo as grossas veias
E as cristalinas fontes de ĂĄgua pura
Tens, para a nossa sede, sempre cheias.

Tu, na vida e na morte, com ternura
Amas os filhos teus, tu te recreias
Em lhes dar, no teu seio, a sepultura.

XVII

Por estas noites frias e brumosas
É que melhor se pode amar, querida!
Nem uma estrela pĂĄlida, perdida
Entre a névoa, abre as pålpebras medrosas

Mas um perfume cĂĄlido de rosas
Corre a face da terra adormecida …
E a névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:

Sombras errantes, corpos nus, ardentes
Carnes lascivas … um rumor vibrante
De atritos longos e de beijos quentes …

E os céus se estendem, palpitando, cheios
Da tépida brancura fulgurante
De um turbilhão de braços e de seios.

HĂłstias

A EmĂ­lio de Menezes

Nos arminhos das nuvens do infinito
Vamos noivar por entre os esplendores,
Como aves soltas em vergéis de flores,
Ou penitentes de um estranho rito.

Que seja nosso amor — sidĂ©rio mito! —
O lĂ­mpido turĂ­bulo das dores,
Derramando o incenso dos amores
Por sobre o humano coração aflito.

Como num templo, numa clara igreja,
Que o sonho nupcial gozado seja,
Que eu durma e sonhe nos teus nĂ­veos flancos.

Contigo aos astros fĂșlgidos alado,
Que sejam hĂłstias para o meu noivado
As flores virgens dos teus seios brancos!

XV

Inda hoje, o livro do passado abrindo,
Lembro-as e punge-me a lembrança delas;
Lembro-as, e vejo-as, como as vi partindo,
Estas cantando, soluçando aquelas.

Umas, de meigo olhar piedoso e lindo,
Sob as rosas de neve das capelas;
Outras, de lĂĄbios de coral, sorrindo,
Desnudo o seio, lĂșbricas e belas…

Todas, formosas como tu, chegaram,
Partiram… e, ao partir, dentro em meu seio
Todo o veneno da paixĂŁo deixaram.

Mas, ah! nenhuma teve o teu encanto,
Nem teve olhar como esse olhar, tĂŁo cheio
De luz tĂŁo viva, que abrasasse tanto.

Um Soneto

A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lĂĄbio trĂȘmulo, esplĂȘndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.

Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espĂĄdua e devorou-te o seio.

Depois, delĂ­rio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciĂȘncia, a crença
Lancei no incĂȘndio dos olhares teus…

Hoje estou pronto Ă  lĂ­vida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
JĂĄ disse ontem Ă  noite, adeus, a Deus!

Porque DescrĂȘs, Mulher, do Amor, da Vida?

Porque descrĂȘs, mulher, do amor, da vida?
Porque esse Hermon transformas em Calvario?
Porque deixas que, aos poucos, do sudario
Te aperte o seio a dobra humedecida?

Que visĂŁo te fugio, que assim perdida
Buscas em vĂŁo n’este ermo solitario?
Que signo obscuro de cruel fadario
Te faz trazer a fronte ao chĂŁo pendida?

Nenhum! intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura;
Bençãos te manda o céo em cada hora.

E descrĂȘs do viver?… E eu, pobre e triste,
Que sĂł no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrĂȘs, em que hei-de eu crer agora?

Passei Ontem A Noite Junto Dela.

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisĂŁo se erguia
Apenas entre nĂłs – e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela…

Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! SĂł a via!
MĂșsica mais do cĂ©u, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

Como era doce aquele seio arfando!
Nos lĂĄbios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!

Mas o que Ă© triste e dĂłi ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando…
Cheio de amores! E dormir solteiro!

Eu Planto no Teu Corpo

Como se arrasta no sol morno um verme
Por sobre a polpa de uma fruta, eu durmo
A tua carne e sinto o teu contorno
Entre os meus braços como um fruto morno.

E a minha boca sobre a pele, um verme,
Vai percorrendo o teu sorriso, e torno
Ao longo do nariz, depois contorno
Os teus olhos fechados por querer-me.

E desço o teu pescoço, feito um mono,
Para os teus seios mornos, como um verme
Por sobre os frutos prontos para o tombo.

Vertendo a unção da morte nos teus membros,
E estremecendo numa cruz de febre,
Eu planto no teu corpo a flor de um pombo.

Esta Saudade

Esta saudade Ă©s tu… E Ă© toda feita
de ti, dos teus cabelos, dos teus olhos
que permanecem como estrelas vagas:
dos anseios de amor, coagulados.

Esta saudade Ă©s tu… É esse teu jeito
de pomba mansa nos meus braços quieta;
Ă© a tua voz tecida de silĂȘncio
nas palavras de amor que ainda sussurram…

Esta saudade sĂŁo teus seios brancos;
tuas carĂ­cias que ainda estĂŁo comigo
deixando insones todos os sentidos.

Esta saudade Ă©s tu… Ă© a tua falta
viva, em meu corpo, na minha alma, viva,
… enquanto eu morro no meu pensamento.