O Misantropo
A boca, Ă s vezes, o louvor escapa
E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto
Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto
O pranto a vesga hipocrisia tapa.Do louvor, com que espanto, sob a capa
Vejo tanta dobrez, ludĂbrio tanto!
E o pranto em olhos vejo, com que espanto,
Que escarnecem dos mais, rindo Ă socapa!Porque, desde que esse Ăłdio atroz me veio,
Só traiçÔes vejo em cada olhar venusto?
PerfĂdias sĂł em cada humano seio?Acaso as almas poderei sem custo
Ver, perspĂcuo e melhor, sĂł quando odeio?
E Ă© preciso odiar para ser justo?!
Sonetos sobre Seios de Raimundo Correia
4 resultadosPlena Nudez
Eu amo os gregos tipos de escultura:
PagĂŁs nuas no mĂĄrmore entalhadas;
Não essas produçÔes que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas
Livres: de carne exuberante e pura
Todas as saliĂȘncias destacadasâŠNĂŁo quero, a VĂȘnus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevĂȘ-la
De transparente tĂșnica atravĂ©s:Quero vĂȘ-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus⊠toda nua, da cabeça aos pés!
Conchita
Adeus aos filtros da mulher bonita;
A esse rosto espanhol, pulcro e moreno;
Ao pé que no bolero⊠ao pé pequeno;
PĂ© que, alĂgero e cĂ©lere, saltitaâŠLira do amor, que o amor nĂŁo mais excita,
A um silĂȘncio de morte eu te condeno;
Despede-te; e um adeus, no Ășltimo treno,
Soluça às graças da gentil Conchita:A esses, que em ondas se levantam, seios
Do mais cheiroso jambo; a esses quebrados
Olhos meridionais de ardĂȘncia cheios;A esses lĂĄbios, enfim, de nĂĄcar vivo,
Virgens dos lĂĄbios de outrem, mas corados
Pelos beijos de um sol quente e lascivo.
Desdéns
Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz⊠O sùndalo se evolua;O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinasâŠ
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolĂȘncia mĂłrbida, espanholaâŠComo eu sou infeliz! Como Ă© sangrenta
Essa mĂŁo impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!Essa mĂŁo de fidalga, fina e branca;
Essa mĂŁo, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!