XLVII
Que inflexĂvel se mostra, que constante
Se vê este penhasco! já ferido
Do proceloso vento, e já batido
Do mar, que nele quebra a cada instante!NĂŁo vi; nem hei de ver mais semelhante
Retrato dessa ingrata, a que o gemido
Jamais pode fazer, que enternecido
Seu peito atenda às queixas de um amante.Tal és, ingrata Nise: a rebeldia,
Que vĂŞs nesse penhasco, essa dureza
Há de ceder aos golpes algum dia:Mas que diversa é tua natureza!
Dos contĂnuos excessos da porfia,
Recobras novo estĂmulo Ă fereza.
Sonetos sobre Semelhantes de Cláudio Manuel da Costa
2 resultados Sonetos de semelhantes de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.
LXXIX
Entre este álamo, o Lise, e essa corrente,
Que agora estĂŁo meus olhos contemplando,
Parece, que hoje o céu me vem pintando
A mágoa triste, que meu peito sente.Firmeza a nenhum deles se consente
Ao doce respirar do vento brando;
O tronco a cada instante meneando,
A fonte nunca firme, ou permanente.Na lĂquida porção, na vegetante
CĂłpia daquelas ramas se figura
Outro rosto, outra imagem semelhante:Quem nĂŁo sabe, que a tua formosura
Sempre móvel está, sempre inconstante,
Nunca fixa se viu, nunca segura?